Não há sinais de otimismo no horizonte do ano que se inicia. Os números da economia continuam implacáveis e a opção do governo pela fórmula que levou o país à ruína, a tal nova matriz econômica, personificada na figura do novo ministro da Fazenda, Nélson Barbosa, aumentou o pessimismo do mercado.
Joaquim Levy, que representava a lógica da aritmética elementar, segundo a qual dois mais dois são quatro, confrontou-se com a lógica petista, que despreza tais detalhes.
Mais: embora domine a lógica dos números, Levy ignora a da política, que o devorou. Sua saída representou o fim da expectativa do mercado de recuperação da economia por meio do atual governo.
Não bastasse, a Lava Jato, com sua interminável cartola de coelhos infratores, continua a todo vapor. As novas delações e investigações aproximam-se cada vez mais de Lula e Dilma. Sabe-se, por exemplo, que a Andrade Gutierrez doou R$ 100 milhões dos pixulecos da Petrobras à campanha de Dilma de 2014.
Lula, por sua vez, está, entre muitos outros, com um novo problemão – um triproblemão, como diriam os gaúchos: o tríplex em Guarujá, em nome de sua mulher, dona Marisa, sob suspeita de lhe ter sido brindado, além de reformado, pela empreiteira OAS.
Não é pouco. Além dos problemas em que pessoalmente se envolveu, Lula vê-se diante de situação no mínimo constrangedora: diversos de seus mais íntimos amigos presos, entre os quais o caixa-preta José Carlos Bumlai, os filhos investigados e agora a esposa tendo que prestar esclarecimentos imobiliários.
O governo manobra na esfera parlamentar e, com a ajuda bolivariana do STF, conseguiu zerar o processo, mas não eliminá-lo. Nessa área, as ruas ditarão o comportamento futuro dos parlamentares. Se houver pressão popular, não há liberação de verba que sustente o voto governista da maioria.
Napoleão dizia que a um soldado pode-se pedir tudo, menos que se sente sobre a baioneta. A um político, também: pode-se pedir tudo, menos que se suicide eleitoralmente – sua baioneta é a urna. E, em outubro, haverá eleições municipais.
Ainda que aí triunfe no campo parlamentar, o governo não tem controle sobre a esfera policial. Sabe-se que o ministro da Justiça, Eduardo Cardoso, cuja cabeça, a pedido de Lula, já esteve a prêmio (o que é uma injustiça a quem tanto preza a disciplina partidária), faz a sua parte, cortando verbas da Polícia Federal. Mas o que já está apurado na Lava Jato é suficiente para manter a tensão política e levar muitos graúdos ao juiz Sérgio Moro, Curitiba.
Não se sabe como tudo isso se desdobrará. A situação é aquela que forjou a velha máxima: quem disser que sabe o que vai acontecer está no mínimo mal informado. Ou seja, tudo pode acontecer – menos nada (numa paródia da máxima original, que diz “tudo, inclusive nada”).
Não há espaço para o nada, inclusive porque muita coisa já aconteceu. A Lava Jato impediu que o PT impusesse seu projeto hegemônico de poder. Impediu, por exemplo, que conferisse aos “movimentos sociais” status de agente estatal, com voto em decisões governamentais e acima do Congresso.
A Lava Jato também liquidou a popularidade do PT e do mito Lula. As pesquisas indicam que, pelo menos no curto e no médio prazos (no longo, todos estaremos mortos), ambos estão feridos de morte. Lula hoje já não circula em público – e, quando o faz, recolhe vaias – e fala apenas a plateias amestradas.
Não é pouco. Quem imaginava, há dois anos, o líder máximo do PT, que seus seguidores imaginavam recebendo o prêmio Nobel ou à frente da ONU, depondo seguidamente em delegacias da PF, com a família o coadjuvando? Pois é: tudo em 2015, numa sucessão vertiginosa de acontecimentos irrevogáveis. Não se desfrita um ovo – e Lula e PT estão submetidos a esta lei implacável da natureza.
O que será de 2016? Será uma queda de braço entre esses fatores estabelecidos em 2015 e o empenho do governo de neutralizá-los – a tentativa de desfritar o ovo.
A índole maquiavélica pode colher resultados na esfera parlamentar, mas, mesmo aí, dependerá de fatores que não controla: os efeitos da catástrofe econômica e do strip-tease moral sobre o ânimo de uma população massacrada por péssimos serviços públicos, carga de impostos avassaladora e índice crescente de desemprego.
A aeronave do ano novo já está em curso com a velha, velhíssima, carga de problemas. O mapa de bordo nem o piloto conhece. Para não abdicar do otimismo, e na falta do que dizer, repita-se o velho mantra: feliz ano novo!
Por Ruy Fabiano
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