domingo, 10 de janeiro de 2016

O PT acabou, agora vem o principal


“A empresa não é o criminoso, o criminoso são pessoas que trabalham ou controlam a empresa. [sic]” (Luís Inácio Adams, advogado-geral da União)

Mario Vitor Rodrigues
Mario Vitor Rodrigues
Ainda estávamos em 2015, o calendário marcava 17 de novembro quando o STF decidiu entrar firme na defesa do governo liderado por Dilma Rousseff, e 18 do mês seguinte ao afrouxarem as regras para acordos de leniência com empresas envolvidas em atos de corrupção. No espaço de praticamente um mês, já nos estertores de um ano catastrófico sob todos os aspectos, dois golpes graves contra a democracia. É verdade, a incompetência deste pessoal não encontra limites, sua natureza autoritária assusta, mas talvez nenhum destes seja o nosso maior problema.

Não me levem a mal, de forma alguma pretendo minimizar a sordidez e a tirania petistas. Muito pelo contrário, ainda que soe imperdoável repetir o mesmo erro quatro vezes seguidas, e no futuro revele-se educativo sofrer como estamos sofrendo, a falta de limites éticos do PT permanece indiscutível.

Sendo ainda mais direto, o Partido dos Trabalhadores acabou. Quero dizer, como liderança capaz de atrair as massas via retóricas morais, acabou. E quem o diz é a própria esquerda, ao enxergar na Rede uma oportunidade de recomeçar, agora que finalmente conseguiram arrombar o cofre e deixar a terra arrasada.

Ainda que leve um tempo para a consumação deste fato, sua fragmentação moral, as retumbantes prisões que ainda estão por vir, além da crise econômica sem prazo para acabar, desde agora nos permitem cogitar sobre o amanhã.

E então, pergunto, é razoável supor um Brasil diferente apenas pela derrocada de Lula e seus comparsas? Melhor com certeza, mas diferente não me parece provável.

Se o petismo deixa alguma lição válida, é justamente sobre como o Estado pode se tornar facilmente manipulável nas mãos de um grupo organizado e desconhecedor de escrúpulos. Basta acompanhar os jornais.

Deixando de lado alguns atores constitucionalmente autônomos, como por exemplo a Polícia Federal e o Ministério Público, é inacreditável o nível de contaminação política em mecanismos designados a fiscalizar. Mesmo na Justiça, haja vista o Supremo, as indicações promovem uma promiscuidade difícil de ser contornada e decisiva para o acobertamento de crimes de má gestão.

Isto sem falar em CGU, AGU, Tribunais de Contas municipais ou estaduais. A fórmula é simples, se corruptos ou ainda pessoas suscetíveis a condutas criminosas e politicagem estiverem aparelhando um sistema, não fará sentido esperar que dificultem seus próprios interesses.

Fato este, aliás, que ganhou publicidade esta semana, felizmente através de um bom exemplo, com a reação do TCU ao vergonhoso socorro do governo às empreiteiras envolvidas na Lava Jato. Avaliando que a Medida Provisória 703 dificultará seu dever de fiscalizar, os Ministros parecem decididos a boicotá-la, ignorando todos os acordos que forem encaminhados ao Tribunal.

Em resumo, do jeito que está, o país precisa torcer para que pessoas comprometidas com a lisura e o interesse público estejam na hora certa e no lugar certo, sob pena de tornar-se refém de si mesmo.

Certamente é grande a nossa responsabilidade pelo que tem acontecido, e a morte prematura de um futuro alvissareiro não só pode como deve recair sobre quem ignora a política e suas artimanhas, reluta em fiscalizar seus governantes, ou tem receio de debater para não ferir suscetibilidades. Arredondando com boa vontade, cada um de nós.

Convenhamos, seria difícil para qualquer comunidade manter distância da cena pública, e portanto negligenciar seus próprios interesses, sem sofrer graves consequências. Até na hora de criticar políticos o fazemos como se não fossem nossos representantes legítimos, às vezes conhecidos, vizinhos, amigos ou até mesmo parentes.

Acho, sim, que o debate sobre o voto obrigatório, a reeleição, inclusive o sistema de governo, deveria ser retomado de maneira mais ampla e demorada. E o mesmo vale para a reforma partidária. Mas, além destes aspectos, é fundamental repensarmos uma engrenagem que possibilite ao organismo estatal produzir anticorpos mais eficientes.

Em outras palavras, não basta tirar o PT do poder, é preciso erradicar seu maior legado.

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