domingo, 22 de março de 2015

Uma questão de escolha (Chacoalhando o Bambuzal)




O período turbulento que vivemos hoje é consequência da escolha feita pelo Brasil em 2010. O país deu um voto de confiança ao ‘molusco mais querido’ e elegeu sua candidata, até então desconhecida do grande público. Com a economia crescendo 7.5% naquele ano, após superar com relativo êxito o período mais agudo da crise internacional no planeta, o companheiro-mor conquistou o direito de decidir quem o sucederia. Difícil visualizar outro desfecho nesse cenário, o que não impede de caracterizarmos a escolha brasileira como a mais infeliz possível. Um acidente de percurso em nossa história.

Não tenho como objetivo dissertar sobre as razões que me fazem considerar Dona Dilma a pior presidente da era democrática, deixarei que a completa ausência de um legado após duas gestões desastradas falem por si. A ideia é brincar de profeta e tentar desvendar o que vem pela frente.

Dona Pinóquia, apelido com o qual me refiro a quem está fazendo tudo aquilo que condenava até o final de Outubro, viverá o inferno astral nos próximos quatro anos. O contexto extremamente difícil, criado por ela mesma ao longo de sua primeira gestão, não permitirá que reconquiste popularidade de forma relevante. A ex-gerentona terminará o mandato mais impopular que José Sarney em fins da década de 80, será rechaçada pelo próprio partido e aliados. Todos se afastarão dela, pois a proximidade custará muitos votos. Dilma contará os dias para encerrar sua ‘era’ e expiará todos os pecados ao longo de sua ‘via-crúcis’. No final de 2018 ela estará abatida, envelhecida, isolada, mal avaliada, mas purificada por conta de tanto sofrimento.

Não enxergo o impeachment como uma possibilidade real, pois considero que as investigações do Petrolão não conseguirão conectar os pontos e relacionar oficialmente a presidente com as práticas de corrupção na Petrobrás. E mesmo que isso ocorra, não considero o Procurador Geral da República alguém que tenha coragem para seguir nessa direção. Dilma capitaneará um governo zumbi, permanentemente chantageado por sua base aliada e sem força para imprimir transformações profundas nos diversos setores carentes de melhorias. Por outro lado, bem ou mal, ela ainda tem uma base de sustentação no Congresso que constitui maioria. Frágil e traiçoeira, mas ainda assim uma maioria.

Pinóquia está tão fragilizada politicamente que a principal figura do governo nem é ela, e sim seu ministro da fazenda Joaquim Levy. Mais uma expiação para nossa diva; conviver por quatro anos com quem tem um profundo antagonismo ideológico; afinal, o seu pensamento dogmático e estatista é o oposto da linha da escola de Chicago, de quem Levy é um dos mais ilustres representantes no Brasil.

A vitória da oposição nas últimas eleições teria sido uma traição do destino. Os problemas a serem combatidos seriam os mesmos, visto que foram plantados em Dilma I, mas a disposição de uma oposição bravateira, agressiva e barulhenta acabaria colocando sob o colo do novo governo a culpa pelos erros de terceiros cometidos no passado. Já pensou você suar a camisa para arrumar a casa e ter que aguentar a mesma turma assumindo o controle dali a quatro anos? Pois essa seria uma possibilidade real para Aécio ou Marina, em caso de triunfo nas últimas eleições. Mas o destino não quis assim, de certa forma fazendo justiça na linha do “ aqui se faz, aqui se paga”.

Pagamos todos nós. Pela escolha equivocada em 2010. Pelo erro em terceirizar a decisão dos destinos do país a um cidadão com mais sorte que sabedoria, o nosso “molusco mais querido”. Como não é possível voltar no tempo, resta-nos a resiliência e indignação, ambas indispensáveis na era de vacas esqueléticas.

Pinóquia fará uma gestão impopular a reboque de Joaquim Levy. O Brasil de 2018 estará em condições um pouco melhores que as atuais, suficiente para despertar o otimismo inerente ao brasileiro comum, mas incapaz de revitalizar a imagem da presidente, que terminará o mandato como uma verdadeira pata manca, uma espécie de talismã às avessas. O desapego forçado em relação à chefe não será o bastante para que o eleitorado conceda ao PT mais quatro anos. O partido da estrela vermelha, envolvido em toda sorte de escândalos de corrupção, será escorraçado do poder em 2018. Levará uma surra espetacular. E o dia em que o “molusco mais querido” não estiver pelas “bandas de cá”, o PT implodirá em vários grupos. Na ausência de seu único líder com envergadura nacional, o partido irá expor suas cisões internas e contradições e terminará perdendo inúmeros quadros. Não mais existirá como hoje. Estamos assistindo ao crepúsculo do mais bem estruturado partido político do Brasil. O sol logo se põe.

Eu apenas espero que daqui a quatro anos o Brasil não faça uma escolha pela qual venha a se arrepender novamente. Não dá para ficar brincando de “desperdiçar gerações”. Há quem diga que perdemos o trem da história. Mas 2018 é logo ali, quem sabe não conseguimos uma vaguinha, mesmo que seja em pé, no fundão. Enquanto esse dia não chega, precisamos manter a vigilância intensa e nunca perder a capacidade de indignação. Ela é que nos fará evoluir. O tempo se encarrega de passar.

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