No Brasil, político que roubava mas fazia dispunha de imunidade. Sua obra justificava seus pecados. O proveito substituía a ética. De uns tempos pra cá, porém, os políticos esqueceram de maneirar. A única consequência de um mar de lama passou a ser a produção de outro. Depois que o mensalão desaguou no petrolão, o mar virou oceano. Para complicar, a crise econômica limitou o proveito dos avanços sociais. Daí a explosão da impaciência nacional com a corrupção. As pessoas perceberam que o roubo é para poucos, sem proveito para a maioria.
A história brasileira inspira pessimismo. Mas muita gente lúcida começa flertar com o otimismo. Acredita-se que o governo Dilma Rousseff pode ser o último a se escorar num modelo político em que a governabilidade está condicionada à costura de alianças indecentes e à complacência com os maus costumes. Tudo dependerá do tamanho do castigo que o Judiciário vai impor aos políticos e empresários que tomaram de assalto a Petrobras.
O julgamento do mensalão foi um marco. Muitos reclamam da mão leve do Supremo com a bancada política da Papuda. José Genoino já está livre. José Dirceu, Delúbio Soares e Cia. já migraram da cana dura para a detenção domiciliar. Mas o contraste entre essas penas brandas e as prisões longevas impostas aos operadores e empresários que se meteram no mensalão produziu um fenômenos redentor: o ‘dedodurismo’.
Deve-se sobretudo ao suor do indicador de corruptos e corruptores o avanço nas apurações da Petrorroubalheira. Não bastasse os cerca de 15 delatores do Paraná, uma das construtoras da Lava Jato, a Setal Engenharia, firmou com o Cade um acordo de leniência, como são chamadas as delações de empresas. Comprometeu-se a desnudar um cartel que frauda licitações na Petrobras desde o final dos anos 90, sob FHC, tendo se consolidado em 2003, na gestão Lula.
Suprema ironia: os dedos-duros deram ao Brasil o que lhe faltava, uma certa lógica protestante. Deus já não se sente à vontade tendo que ajudar Baruscos e Duques a entesourar milhões no estrangeiro ou os empreiteiros a firmar grandes contratos. Quanto aos políticos pilhados com a mão suja de óleo, já não há obra superfaturada capaz de redimi-los.
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