Os doadores estão cabreiros e tirando o deles da reta, os tesoureiros das
campanhas, à beira de um ataque de nervos: as caixas 1 e 2 estão à míngua. O
primeiro mensaleiro não só foi condenado como recebeu histórica descompostura
dos ministros Cezar Peluso e Celso de Mello, como um delinquente com a marca da
indignidade e o estigma da desonestidade.
Independentemente de condenações ou absolvições individuais, é um grande
avanço para a democracia o Supremo Tribunal Federal firmar jurisprudência sobre
a criminalização do uso político do caixa 2 - sejam quais forem os meios e os
fins - e começar a acabar com um dos mais nefastos e antidemocráticos vícios da
política brasileira, lastreado no cinismo do "todos fazem" e na promiscuidade
com os doadores.
O ladrão em causa própria, seja de galinhas ou de verbas públicas, dá
prejuízos pontuais a pessoas físicas ou jurídicas, ou ao Estado, que podem ser
ressarcidos se o criminoso for condenado. Usar dinheiro sujo para fraudar o
processo eleitoral, manipular a vontade popular, corromper políticos, comprar
vantagens para seu partido para impor a sua crença, provoca irreparáveis danos
para toda a sociedade. Porque desmoraliza a democracia, institucionaliza a
impunidade e interfere de forma decisiva e abusiva nos direitos dos cidadãos. O
ladrão ideológico é mais nocivo que o profissional.
É por isso que em países civilizados, com maior tradição jurídica que o
Brasil, como a Itália, a Alemanha e a Inglaterra, a motivação política é
considerada como fator agravante de um crime. Porque o produto do delito servirá
para manipular processos eleitorais e atentar contra as instituições
democráticas, roubando direitos de toda a sociedade.
Lá, o caixa 2 já derrubou primeiros-ministros, governadores e prefeitos.
Aqui, ainda é usado como atenuante, como uma bizarra sequela da ditadura, quando
a luta pela liberdade justificava tudo.
A atitude de tolerância zero que a maioria dos ministros do STF está tomando
com o caixa 2 vai melhorar muito o comportamento dos políticos, não por ética ou
espírito público, mas por medo da Justiça e da cadeia.
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