sexta-feira, 29 de outubro de 2010

A morte de Kirchner

Rodrigo Constantino

Algumas pessoas acreditam que não devemos falar mal dos mortos, ao menos não enquanto o cadáver ainda está esfriando. Mas eu discordo. Creio que é justamente neste momento, quando oportunistas aproveitam a comoção popular e a blindagem das críticas pelo suposto “respeito” aos mortos, que temos o dever de questionar as verdadeiras qualidades e defeitos de quem faleceu. Afinal, como disse Nietzsche, “a morte dos mártires, seja dito de passagem, foi uma grande desgraça na história; seduziu...”

É comum ver a morte transformar crápulas em santos. Mas não podemos perder de vista a realidade, e não devemos nos privar do direito de continuar criticando o defunto e seus herdeiros. Até porque seu fantasma pode muito bem continuar assombrando um povo. O corpo morre, mas suas idéias seguem vivas. E idéias têm conseqüência. Vide o próprio Perón na Argentina, de quem Nestor Kirchner era herdeiro político. O estrago que este caudilho populista causou ao povo argentino não se limitou ao seu tempo de vida.

Certas almas mais “sensíveis” podem achar isso tudo muito grosseiro e deselegante com a viúva, a presidente da Argentina. Mas sou de opinião contrária; acho que grosseria é o que seu governo, controlado nos bastidores pelo marido que morreu, faz com os pobres argentinos. Isso sim é triste, não a morte do responsável pela miséria de tantos, pela perseguição às liberdades individuais (as ações do grupo Clarín subiram mais de 20% após o anúncio da morte de Kirchner). Quando há tanta impunidade assim aos malfeitores, a justiça “divina” pode ser a única solução. Talvez Deus não seja brasileiro, mas sim argentino...

Se alguém ainda está horrorizado com minha “insensibilidade”, vou apelar para o reductio ad absurdum à guisa de conclusão: quem derramaria lágrimas pela morte de Hitler? Pois é. Mas quando se trata de um caudilho populista de esquerda, então temos que ser “sensíveis” e “respeitar” os mortos. Respeito se conquista! E muitos, vivos ou mortos, simplesmente não merecem respeito algum. Aliás, sou forçado a confessar: já mantenho no gelo o champagne a ser estourado no dia em que o ditador Fidel Castro finalmente bater as botas!

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