O governo fez de conta que não era da sua alçada a carraspana que a cúpula da Fifa passou nas autoridades brasileiras sobre o atraso nas obras da Copa de 2014.
Conforme deixou claro o secretário-geral da entidade, Jérôme Valke, o teor do sermão vai engrossar tão logo sejam encerrados os jogos na África do Sul. Três anos depois da indicação do Brasil para sediar a maior competição esportiva do planeta ainda estamos na fase de celebração e praticamente nada de execução saiu do papel.
Em relação aos estádios, até mesmo o presidente da CBF não esconde inquietação com a falta de providência. As arenas esportivas têm de estar prontas até dezembro de 2012 e muitas ainda nem começaram a reforma.
O limite de 30 meses da realização dos empreendimentos já entrou na fase do esgotamento. Tínhamos muito tempo naquele distante 2007, agora é uma corrida contra o relógio.
No último dia 2 de março, Jérôme Valke já havia mostrado sinais de intolerância com a enrolação brasileira no desenvolvimento das obras de infraestrutura e dos próprios estádios.
A situação fica ainda mais preocupante quando o presidente Lula, no uso das atribuições conferidas pela intimidade com o altíssimo, garante que os meses de junho e julho, quando ocorrerão a Copa do Mundo e as Olimpíadas, não estarão sujeitos a chuvas e trovoadas, ou seja, não haverá fenômeno meteorológico capaz de inundar o barraco. Isso é que é previsão do tempo.
A Fifa tem razão de não cair na conversa de que Deus é brasileiro e que para tudo há um jeitinho, pois continuam em vigor os gravíssimos problemas de estrangulamento dos aeroportos.
As perspectivas são ruins caso sejam feitas as obras de ampliação do sistema.
Na hipótese de o setor ser negligenciado, talvez será necessário pedir ao brasileiro que não saia de casa para que o turista estrangeiro possa se deslocar pelo País durante a Copa de 2014.
A situação de infraestrutura é tão grave que muitos amantes do futebol que vieram ao Brasil para a Copa de 2014 vão conhecer praias paradisíacas, sol exuberante, calor humano incomparável e muito esgoto a céu aberto a tramar contra toda a qualidade ambiental da aparência física acolhedora de várias cidades-sede do Nordeste e da Amazônia.
As obras do PAC para o setor estão bastante atrasadas e não há discurso que fará com que se altere a situação de capitais onde existem apenas uma cobertura do serviço de 21%. Mesmo Copacabana é uma praia imprópria para balneabilidade, tamanha a contaminação da Baia da Guanabara por efluentes domésticos.
O sistema viário das grandes cidades é outro óbice. Não temos e, pelo andar da carroça do PAC, não teremos intervenções compatíveis com a estruturação de um transporte público de massa eficiente.
Há sérias dúvidas, inclusive, sobre a capacidade da rede de saúde privada do País de atender aos 500 mil turistas estrangeiros esperados, além dos evidentes gargalos nos sistema de energia, telecomunicações, sinalização turística, comunicação em língua estrangeira e até de hotelaria.
Sem dúvida que a Copa do Mundo e as Olimpíadas são uma oportunidade singular para promover o produto turístico do Brasil no exterior e produzir saltos de desenvolvimento que trarão bem-estar ao povo brasileiro.
Agora, não podemos deixar de dizer que ainda não transmitimos confiança em nossa capacidade de realizar eventos de tal porte.
No lugar de demonstrar competência estamos a gerar dúvidas alimentadas por um misto de improviso e enrolação.
Especialmente o mundial de futebol pode ser uma batata quente que será entregue ao próximo presidente já no dia da posse devido à exiguidade de tempo em relação ao que precisa ser feito para preparar o País.
O Brasil da Era Lula elaborou um plano fantástico para atrair o turista estrangeiro. O programa da Embratur não decola por que são permanentes os problemas nacionais de infraestrutura.
Em uma década conseguimos acrescer menos de 1 milhão de turistas anuais.
No ranking de competitividade do turismo, ocupamos a 45ª posição entre 133 países avaliados. Já em relação ao número de visitantes estrangeiros recebidos estamos em 42º lugar, com alguma coisa próxima de 7% do que consegue a França. Temos chance de reverter o quadro se houver profissionalismo ou afundar a imagem do Brasil a se continuar tamanha incompetência e improvisação.
Demóstenes Torres é procurador de Justiça e senador (DEM-GO)
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