sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

No Nordeste, Lula fornece um kit de campanha para bolsonaristas



Decidido a vincular a agenda presidencial ao calendário eleitoral, Lula foi ao Nordeste. Sua ideia era oferecer material para petistas e aliados que disputarão prefeituras na campanha de 2024. Algo deu errado. No intervalo de 48 horas, produziu um kit de campanha capaz de fazer a festa do bolsonarismo. Culpou a sociedade pela crise na segurança, acorrentou-se à bola de ferro do negacionismo ético, encostou sua figura num candidato tóxico e afagou a cúpula militar.

Nesta sexta-feira, em Pernambuco, além de prestigiar a solenidade de troca do Comando Militar do Nordeste, assumido pelo general Maurilio Ribeiro, Lula aceitou levar o prestígio da figura presidencial à solenidade de lançamento da pedra fundamental de uma Escola de Sargentos. Sob questionamento de órgãos ambientais, a escola será erguida em área preservada da zona da mata pernambucana.

Na véspera, de passagem pela Bahia, Lula incluiu em sua retórica eleitoral a crise na segurança pública. De saída, atribuiu a encrenca ao "Estado ausente" e ao descaso com a educação. Engatando uma segunda marcha, indagou: "Quem é o responsável? O presidente, o governador, o prefeito?". Prosseguiu: :Somos nós os responsáveis: a sociedade brasileira, que precisa cuidar desse país."

Em qualquer outro lugar, culpar as vítimas pelo incremento da criminalidade seria um absurdo. Na Bahia, foi um escárnio. Campeão de homicídios, o estado é governado pelo PT desde 2007. Hoje, os ex-governadores Jaques Wagner e Rui Costa são, respectivamente, líder de Lula no Senado e chefe da Casa Civil do Planalto. Lula posou para fotos ao lado de Geraldo Júnior. É vice-governador. Cogita disputar a prefeitura de Salvador pelo MDB local, controlado por Geddel Vieira Lima, pilhado em 2017 com R$ 51 milhões em malas recheadas de dinheiro vivo.

Depois de encostar a faixa presidencial no correligionário de Geddel, seu ex-ministro e vice-presidente da Caixa sob Dilma, Lula voou para Pernambuco. Ali, atribuiu a uma onda de mentiras e a um complô da força-tarefa de Curitiba com o governo de Washington a corrupção na Refinaria Abreu e Lima, admitida até nos balanços da Petrobras. Numa sabatina da campanha de 2022, Lula declarou: "Você não pode dizer que não houve corrupção, se as pessoas confessaram." Agora, ressuscita a retórica da negação, acionando um realejo que alimenta o antipetismo, principal seiva do bolsonarismo.

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