Josias de Souza
Enquanto aguarda pela expedição de uma ordem de prisão do STF, José Dirceu esperneia livremente. Na noite passada, o companheiro participou de um ato de desagravo organizado pelo PT de Curitiba. Escutado por cerca de 130 militantes, o condenado desenvolveu duas teses. Numa, equiparou o julgamento do mensalão à inquisição. Noutra, nivelou a sentença que lhe impôs dez anos e dez meses de cana –“uma mancha na história do STF”— à extradição de Olga Benário.
Curiosa inquisição essa que torrou Dirceu. Espécie de herege de si mesmo, o ex-chefão da Casa Civil jogou-se espontaneamente na fogueira ao terceirizar pedaços de sua agenda a Marcos Valério. Borrifou querosene nas labaredas ao travar com personagens como Roberto Jefferson as conversas vadias posteriormente delatadas.
Inusitada a comparação com Olga Benário. Ela era mulher do líder comunista Luiz Carlos Prestes. Grávida da filha Anita, foi presa e extraditada para a Alemanha em 1936. A ditadura companheira de Getúlio Vargas fez isso com a anuência do Supremo de então, que indeferiu um habeas corpus pedido pelos advogados de Olga.
Todo mundo sabia que a mulher de Prestes estava sendo enviada para a morte. Judia e comunista, ela foi à câmara de gás em 1942. A comparação de Dirceu é imperfeita e injusta. É imperfeita porque os magistrados daquela época julgaram de cócoras para um ditador. Os de hoje respiram democracia e fundamentam suas decisões sob os holofotes da TV Justiça.
É injusta por que desmerece o valor de Lula e Dilma Rousseff. Pode-se dizer muita coisa dos governos do PT, menos que escolheram mal os procuradores da República e os ministros do Supremo. Descontados os equívocos, o ex-soberano e sua pupila capricharam.
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