segunda-feira, 6 de junho de 2022

Sertanejos viraram elos de uma corrente do bem




A polêmica envolvendo os cantores sertanejos se tornou uma corrente do bem. Descobriu-se que artistas que se consideram pessoas de bem se dão bem em acertos obscuros com prefeituras, acumulando muitos bens às custas da miséria alheia. A exposição dos elos dessa corrente faz bem ao país.

Já estava claro que o caso requer investigações. Isso ficou ainda mais nítido depois que a cantora Anitta disse ao programa Fantástico que recusou propostas —assim, no plural— que incluíam um "pagamento por fora", para que o contratante da prefeitura pudesse "pegar um pedaço" do contrato. No português das ruas, isso se chama "roubo".

Levantamento do Estadão, revela que 48 prefeituras com menos de 50 mil habitantes torraram mais de R$ 14,5 milhões em shows de Gusttavo Lima, Zé Neto e Cristiano, Wesley Safadão, Luan Santana e Leonardo. Os palcos serão montados neste ano eleitoral de 2022 em cidades cujos habitantes convivem com falta de saneamento, de energia elétrica, de asfalto e de postos de saúde.

Parte da verba que banca os shows vem do orçamento federal secreto. Deputados e senadores enviaram R$ 28,5 milhões para as prefeituras festeiras. Ou seja: mesmo os contribuintes brasileiros que não assistem a nenhum show dos artistas de bem contribuem para que eles adquiram os bens que compõem suas fortunas.

Há um sujeito oculto no debate sobre os cachês da turma do sertanejo orçamentário. Chama-se Jair Bolsonaro. No início do ano, o governo reduziu de R$ 45 mil para R$ 3 mil o limite do cachê de artistas solo que realizam apresentações custeadas com incentivos fiscais da Lei Rouanet. Pela lógica, o custeio de shows que chegam a ultrapassar a cifra de R$ 1 milhão com verbas federais deveria merecer a reprovação fulminante do presidente.

Há três meses, Bolsonaro declarou que "artistas que viviam bajulando o presidente, podiam pegar até R$ 10 bilhões por ano via Lei Rouanet." Era mentira. Em 2019, primeiro ano da gestão Bolsonaro, o teto para todos os projetos da Lei Rouanet não passava de R$ 1,5 bilhão.

A tribo dos sertanejos é majoritariamente feita de bajuladores bolsonaristas. O silêncio do presidente revela que a hipocrisia não tem ideologia.

Por Josias de Souza

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