O samba do Pinheirinho desafinou e ainda pode levar o seu autor para a cadeia. O sindicalista Renato Bento Luiz, o Renatão, diretor do Sindicato dos Metalúrgicos de São José, responde a um processo criminal por calúnia, difamação e injúria movido pela juíza Márcia Loureiro, que determinou a reintegração de posse da ocupação sem teto, levada a cabo em janeiro de 2012.
Ela afirmou ter ficado “pessoalmente ofendida” com trecho do samba “Covardia Nacional”, de autoria de Renatão, que aludia à desocupação do Pinheirinho.
“Falou Eliana Calmon / espalha rápido essa droga / em São José já tem bandido de toga”, diz a letra do samba, que embalou o desfile do tradicional bloco Acorda Peão, dos Metalúrgicos de São José, no Carnaval de 2012.
O trecho da canção relembrava uma frase que a então corregedora geral do CNJ (Conselho Nacional de Justiça), Eliana Calmon, disse em entrevista a O VALE.
Na ocasião, ela afirmou que havia “bandidos de toga” espalhados pelo país. A frase repercutiu nacionalmente.
Audiência. Além da letra, Márcia cita na ação que carros alegóricos do bloco faziam alusão a ela, que participou ontem da primeira audiência do processo, na 2ª Vara Criminal de São José.
Também foram ouvidas duas testemunhas de defesa.
Uma nova audiência foi marcada para 22 de janeiro de 2015, quando outras testemunhas deverão depôr.
Renatão também deve prestar depoimento. Se for condenado, pode pegar até três anos de cadeia.
Ele alega que não se referiu diretamente à juíza do caso Pinheirinho e que a letra do samba reproduzia frase de Eliana Calmon, que citou magistrados de forma genérica.
Na época do desfile, Renatão comparou o bloco a uma “oportunidade de protesto e denúncia contra a postura dos governos no episódio do Pinheirinho”.
Censura. Para o advogado Antonio Donizete Ferreira, o Toninho, um dos defensores de Renatão, a postura da juíza pode ser comparada à censura.
“A letra do samba é uma licença poética, não se referiu a ela diretamente, mas à justiça em geral, como disse Eliana Calmon”, afirmou.
“O processo é uma tentativa de censurar a letra de uma música e a liberdade de expressão em uma das mais típicas manifestações culturais de nosso povo, que é o Carnaval.”
Envolvida com audiências ontem, Márcia Loureiro não comentou ontem o assunto.
O Vale
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