sexta-feira, 1 de outubro de 2021

Esquerda e direita se matam, Maximiano sobrevive às ideologias e seus mitos



Enquanto militantes de esquerda e de direita se matam nas redes sociais, personagens como Francisco Maximiano sobrevivem às ideologias, aos governos e aos mitos. Percorrem os subterrâneos do Poder à procura de oportunidade$. Não perdem por esperar. Ganham.

Acompanhados de procuradores da República e de auditores da Receita, agentes da Polícia Federal realizaram nesta quinta-feira, em São Paulo, operação de busca e apreensão em endereços vinculados à Global Gestão em Saúde. A empresa pertence a Maximiano, que também é dono da Precisa Medicamentos.

Também nesta quinta-feira, o Ministério Público Federal ofereceu denúncia contra Maximiano e outros personagens por organização criminosa, corrupção e lavagem de dinheiro.

A logomarca Precisa e o nome Maximiano frequentam as manchetes associados ao escândalo da compra da vacina indiana Covaxin. Mas a batida policial e a denúncia do Ministério Público não têm nada a ver com a CPI da Covid ou com a aquisição de imunizantes.

As novidades referem-se a escândalos de outra época. A denúncia trata de mutretas executadas ao redor de um contrato da Global com os Correios entre 2011 e 2014.

A incursão dos rapazes da Polícia Federal buscava documentos para um inquérito sobre corrupção e lavagem de dinheiro envolvendo a venda de medicamentos à Petrobras. Uma pendência do período de 2014 a 2016.

Os dois casos ocorreram numa ocasião em que governava o país Dilma Rousseff. No processo que traz a Petrobras de volta ao noticiário, suspeita-se que a Global passou dinheiro sujo por baixo da mesa para dois caciques do MDB: o ex-deputado Eduardo Cunha e o ex-senador Romero Jucá, duas figurinhas fáceis da extinta Lava Jato.

A mesma Global responde a inquéritos em Brasília. Um deles refere-se à venda de R$ 20 milhões em remédios para o Ministério da Saúde. O dinheiro foi pago. Os remédios jamais chegaram. Coisa da gestão de Michel Temer, quando comandava a pasta da Saúde o deputado Ricardo Barros.

Réu da cepa do centrão, Ricardo Barros agora é líder de Bolsonaro na Câmara. Ele é um dos alvos da CPI da Covid no caso Covaxin —transação de R$ 1,6 bilhão, que o governo do capitão teve de cancelar depois que virou escândalo.

Os otimistas costumam enxergar os casos de corrupção como surtos benfazejos. Seriam oportunidades para a correção de rumos. No Brasil, porém, a reiteração dos escândalos, um se sucedendo ao outro, faz com que o otimismo seja substituído pelo desalento.

O brasileiro vem sonhando com uma virada de página pelo menos desde o impeachment de Fernando Collor. Ali, parecia entendido que o país tomaria jeito. Os eleitores votariam melhor. Os políticos roubariam menos. E o dinheiro público deixaria de sair pelo ladrão. Deu tudo errado.

Depois da roubalheira da Era Collor vieram os anões do orçamento; a compra de votos da reeleição de FHC; o mensalão do ciclo Lula; os mensalões do PSDB mineiro e do DEM de Brasília; o petrolão da fase Dilma; as rachadinhas da família Bolsonaro; a picaretagem das vacinas.

Fica-se com a impressão de que, no Brasil, a banda bandalha sempre vence. O último a sair rouba a luz.

Por Josias de Souza

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