Renato Nalini |
A indefinição da República é catastrófica para o brasileiro que se acostumou a buscar amparo no Estado e dele não pode prescindir para a consecução de todos os seus anseios. A situação atual parece aquela enfrentada por Walter Benjamin, quando constata um clima de desalento na Alemanha do início do século 20.
“Quem não fugir à percepção da decadência passará sem demora à justificação particular das razões pelas quais permanece e age neste caos e dele participa”. Ou seja: cada qual está mais interessado no próprio umbigo, na sua subsistência pessoal e totalmente desvinculado de qualquer responsabilidade em relação à Nação.
É impossível não constatar o fracasso geral, mas há sempre uma exceção para a sua própria esfera de atuação. Os outros são os culpados, eles é que mergulharam o país nesta enrascada. Eu sou apenas uma vítima das circunstâncias.
É evidente que esse reducionismo é cego. Ou tenta sê-lo. A conivência com a corrupção é algo entranhado na consciência de grande parcela das pessoas. Quem é que não procurou oferecer propina a um guarda rodoviário para continuar sua viagem sem apreensão do carro? Quem é que lavra escrituras por valor inferior ao real? Quem é que, podendo, não faz maquiagem na sua declaração de rendas para pagar menos imposto?
O “levar vantagem” é alguma coisa ínsita na alma tupiniquim. Não foi por acaso que a primeira carta aqui escrita já contivesse um pedido de emprego. Os encurralados na mixórdia deste País querem encontrar culpados, mas não são inocentes. Somos responsáveis pelas eleições. Não exigimos a reforma política.
Não nos mobilizamos. Achamos que os “outros” é que têm de se mexer. Fico na minha zona de conforto aguardando que algo aconteça e que o cenário mude. Pouca gente quer saber de assumir obrigações, de ter ousadia e coragem para clamar por decência. As queixas ficam no ambiente resguardado, que não desborde em alguma consequência indesejável. O que estou fazendo para mudar a situação? Qual foi a minha contribuição para alterar esse quadro nefasto?
Sem um protagonismo cívico e até mesmo heroico, não haverá alteração nesse quadro tétrico, a comprometer os próximos anos, pois nem por milagre haverá recuperação em 2016 e 2017.
JOSÉ RENATO NALINI é presidente do Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo
6 comentários:
Doutor Nalini esclarecedor seu artigo. O senhor foi presidente do maior Tribunal de Justiça do Brasil, talvez do mundo, e deve bem ter ali aprendido que infelizmente hoje cuidamos mais em querer saber e buscar nossos direitos do que nossos deveres e obrigações. O judiciário é uma prova inconteste desta situação, especialmente no que tange à indústria da indenização. Podemos mudar essa deturpação, mesmo que a longo prazo, mostrando que são correlatos direito e deveres. O judiciário pode fazer isso, iniciando com decisões mais cuidadosas na imposição da 'obrigação de indenizar', do enriquecimento sem causa proferidas em seu dia a dia, em decorrência de = exagerando = um simples pisão no dedão do pé, do travamento da porta de segurança do banco, do não funcionamento por alguns momentos das linhas telefônicas e internet e outras questiúnculas mais . São conhecidas as orientações dadas neste sentido quanto esteve à frente do TJ Paulista, além da busca de prestação judicial eficiente. Foi um começo, que sejam então mantidas e que todos os demais dirigentes dos Tribunais deste país assim ajam, pois se o judiciário não der guarida a pleitos que vãos, por certo, já é um inicio de mudança. Como disse o então juiz Laert Nordi, hoje desembargador aposentado, quando operava em uma das varas da capital: "Aos juízes devem ser reservados tempos para as discussões realmente sérias". Parabéns pelo trabalho desenvolvido à frente do Tribunal de Justiça Paulista. Já ensarilhei minha mochila e estou me colocando nesta sua mesma trincheira.
Brasilino você é fera mesmo, seu comentário nos faz conhecer ainda mais este ilustre cidadão. Dr Nalini temos que sair às ruas no dia 13 de Março. infelizmente saí aqui em Caçapava dia 13 de dezembro às 13:00 hs conforme o combinado e só deu eu na Praça da Bandeira. Quando tem panelaço, não tem problema só da eu, mais eu bato. Parabéns ao Senhor e ao Dr. Brasilino Neto.
André temos que continuar a malhar, mesmo sabendo que estamos fazendo em ferro frio, e como disse ao final da matéria, prepararmos nossos apetrechos para fazer parte de uma trincheira em favor deste nosso Brasil.
Bela reflexão Brasa. Bom dia, ótimo fim de semana, via Facebook.
O drama me parece típico da atual gestão governamental: emparelhar a máquina pública de espúrias a fim de assegurar blindagem aos poderosos do crime. Lamentável. E preciso muita fé para continuar acreditando que isso aqui pode ser um lugar melhor..., via Facebook, Volta Redonda, Rio de Janeiro.
Mais uma atitude orquestrada dissimulada e articulada, só isso nada mais = Via Facebook. Ubatuba
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