terça-feira, 31 de maio de 2022

Em vez de suavizar o marido, Michelle se bolsonariza: "Ele é imbrochável"



Por sugestão dos estrategistas do centrão, Michelle Bolsonaro virou objeto de campanha no pressuposto de que sua presença nos palanques, em entrevistas e até em rede nacional de televisão suavizaria a péssima impressão que as mulheres brasileiras têm do seu marido. Até aqui, segundo o Datafolha, não funcionou. A intenção de voto em Bolsonaro entre as mulheres, em todas as faixas de renda, é sempre numericamente inferior à registrada entre os homens. A coisa pode piorar. Em vez de suavizar o marido, Michelle começa a se bolsonarizar.

Exposta ao lado do marido num programa de TV popularesco, a primeira-dama foi submetida a uma pergunta marota. Indagou-se se Bolsonaro "tá dando conta em casa". Michelle achou quer seria uma boa ideia aderir a uma tríade que Bolsonaro costuma associar a si mesmo. "Ele é imbrochável, incomível e imorrível", disse a primeira-dama. Bolsonaro, aos risos, declarou que a "propaganda" de Michelle "não é enganosa". Há controvérsias.

O desempenho de Bolsonaro na alcova não interesse ao eleitorado. O apreço de Michelle pelos bordões machistas e sexistas do marido também interessam muito pouco. Mas na vitrine do Planalto, Bolsonaro é bem diferente do que imagina ser.

Sempre que se defronta com um problema, o presidente amolece. O centrão come cotidianamente o seu prestígio. E sua candidatura morre aos poucos nos índices das pesquisas. Se há corrupção, Bolsonaro diz que não tem como saber de tudo o que acontece nos ministérios; se os combustíveis sobem, alega que não manda na Petrobras; se a inflação rosna, põe a culpa na pandemia e na guerra do Putin.

Esse Bolsonaro real se parece mais com um presidente banana do que com o personagem viril que ele tenta representar, agora com o endosso de Michelle. A adesão da primeira-dama ao bordão do marido não deve ajudar a dissolver a aversão das mulheres à candidatura do valentão.

Por Josias de Souza

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