sábado, 19 de fevereiro de 2022

Toda nudez moral de Mario Frias é premiada



Não é a hipocrisia de Mario Frias que assusta. A hipocrisia pelo menos é uma coisa racional. Num governo que considera que Deus está acima de todos, poder-se-ia inclusive atribuir um caráter sacrossanto à nomeação de amigos ou parentes. Afinal, diriam os devotos do mito, foi o Todo-Poderoso quem inaugurou a prática ao nomear o filho para comandar a Santa Ceia.

O que assusta mesmo é a percepção de que o secretário de Cultura de Bolsonaro não está sendo cínico quando trata com naturalidade a decisão de enfiar na folha de sua repartição a noiva de um deputado bolsonarista: "Preferia que eu tivesse nomeado a esposa do Lula?"

O currículo da escolhida não orna com as atribuições do cargo. Mas Frias, questionado sobre a ausência de experiência, respondeu como se dispusesse de salvo-conduto para reinterpretar o conceito de meritocracia que Bolsonaro diz valorizar: "De repente, você tem experiência. Mas eu não te conheço. E não vou te botar aqui, pô!".

Mario Frias dá polêmica como a bananeira dá bananas. Seu cunhado obteve uma boquinha na Embratur, autarquia que pende do organograma do Ministério do Turismo, a mesma pasta que abriga a Cultura. Na companhia de um assessor, Frias torrou R$ 78 mil do contribuinte numa incursão nova-iorquina que atendeu a variados interesses, exceto o interesse público.

Frias rosna como se achasse que não deve nada a ninguém. Muito menos explicações. Quando termina o sincericídio do personagem, o que sobra é a licença que Bolsonaro lhe concede para exercitar seu ineditismo na Secretaria de Cultura. Toda nudez moral de Mario Frias é premiada pelo capitão. O espetáculo é triste, pois exibe uma nudez que ninguém pediu, que ninguém quer ver, que já não espanta ninguém.

Por Josias de Souza

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