terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

Inquérito parado tonifica suspeita de aparelhamento da PF por Bolsonaro



"Se for ilegal a gente vê lá na frente", declarou Bolsonaro quando ganhou as manchetes a suspeita de corrupção na gestão de Fábio Wajngarten à frente da Secretaria de Comunicação da Presidência, a Secom. Faltou definir "lá na frente". Decorridos dois anos, verifica-se que a expressão do presidente era apenas um outro nome para embromação. Aberto em janeiro de 2020, o inquérito da Polícia Federal que deveria apurar o caso continua inconcluso.

Continua aberto também o inquérito que apura a suspeita de que Bolsonaro tramou converter a Polícia Federal num aparelho de blindagem do presidente, da família presidencial e dos amigos. A ausência de conclusão do inquérito sobre Wajngarten é apenas mais uma evidência de que o aparelhamento da PF pode ter mudado de patamar, evoluindo da fase da suspeita para o estágio dos fenômenos inquestionáveis.

Até ser nomeado secratário de Comunicação do Planalto, Wajngarten dirigia uma empresa. Mantinha contratos com emissoras de TV e agências de publicidade que vendem serviços à Secom. Contratado por Bolsonaro, Wajngarten continuou sendo dono de 95% das cotas da empresa. Foi substituído no comando da firma por um amigo de sua confiança. E fez do irmão do amigo seu braço direito na Secom.

Ouvido na ocasião, Wajngarten disse ter sido "orientado pela SAJ [Subchefia de Assuntos Jurídicos do Planalto], pela AGU [Advocacia-Geral da União] e pela CGU [Controladoria-Geral da União]." A orientação foi para "que eu saísse do quadro de gestão" da empresa, declarou. Para ficar em pé, essa versão precisa ser escorada num lote de documentos.

Cabe à PF apresentar respostas para pelo menos duas indagações: antes de ter o seu nome associado à suspeição, Wajngarten encaminhou consultas formais aos órgãos que supostamente o aconselharam a se afastar de sua empresa? Há respostas documentadas dos órgãos de controle à hipotética consulta do ex-chefe da Secom?

Sem esse papelório, a "explicação" de Wajngarten se insere na categoria de conversa fiada.

Por Josias de Souza

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