sábado, 12 de fevereiro de 2022

Papo golpista: Bolsonaro ataca TSE, exige 2º turno e comete crime eleitoral


Rogério Marinho e Bolsonaro durante mais uma live criminosa: de crime eleitoral a 
golpismo, houve de tudo, incluindo muitas mentiras Imagem: Reprodução

O presidente Jair Bolsonaro voltou à conversa golpista para pôr em dúvida a credibilidade das urnas eletrônicas, tentando preparar, quem sabe, o terreno para que suas hordas contestem o resultado da eleição deste ano. Na "live" desta quinta, saiu-se, como de costume, com mais uma mentira sobre a natureza de questões enviadas ao TSE pelo representante das Forças Armadas na Comissão da Transparência Eleitoral e pôs em dúvida o trabalho do tribunal. Adicionalmente, lançou uma tese: caso a eleição se decida no primeiro turno, então será prova de fraude. E isso tudo já está em suas redes sociais, pondo em funcionamento a organização criminosa apontada pela delegada Denisse Dias Rosas Ribeiro.

Na delinquência semanal que leva ao ar, afirmou:
"Foram levantadas várias, dezenas de vulnerabilidades. Foi oficiado o TSE para que pudesse responder às Forças Armadas - porque, afinal de contas, o TSE pode ser que esteja com a razão. Pode ser, por que não? Passou o prazo que a administração diz, 30 dias, ficou um silêncio. Foi reiterado, o prazo se esgotou no dia de hoje, tá certo? E isso está na mão do ministro [da Defesa] Braga Netto para tratar desse assunto. E ele está tratando desse assunto e vai, com toda a certeza, entrar em contato com o presidente do TSE para ver se o atraso foi em função do recesso [do Judiciário], não foi, se a documentação vai chegar. E daí as Forças Armadas vão analisar isso daí e vão dar uma resposta".

Comecemos pelo fim: caso as Forças Armadas não gostassem da resposta por terem feito as perguntas erradas, aconteceria o quê? Cancelamento das eleições? Usar-se-ia o pretexto da questão técnica para desferir um golpe?

É mentira que vulnerabilidades tenham sido apontadas -- até porque ninguém nas Forças Armadas fez um estudo profundo o suficiente para isso. O que se fez foi encaminhar um elenco de perguntas de natureza técnica. E há uma explicação para a dilação do prazo, que já está na fala de Bolsonaro. Reproduzo a nota do tribunal:
"O pedido do representante das Forças Armadas na Comissão de Transparência Eleitoral foi protocolado próximo do recesso, quando os profissionais das áreas técnicas fazem uma pausa. Após este período, o conteúdo começou a ser elaborado e será encaminhado nos próximos dias.
São dezenas de perguntas de natureza técnica, com certo grau de complexidade. Tudo está sendo respondido, como foi devidamente comunicado ao referido representante.
Cabe destacar que são apenas pedidos de informações, para compreender o funcionamento do sistema eletrônico de votação, sem qualquer comentário ou juízo de valor sobre segurança ou vulnerabilidades. As declarações que têm sido veiculadas não correspondem aos fatos nem fazem qualquer sentido."

GOLPISMO LIOFILIZADO
É um absurdo o que está em curso, e essa fala do presidente, que requereria um desmentido das Forças Armadas, é sim expressão de um caldo que mistura um tanto de golpismo com outro de teorias conspiratórias. No fim de novembro, os militares foram convidados a comparecer aos testes de segurança feitos pelo TSE. Ninguém apareceu. Nota, agora, não sairá porque o general Braga Netto, ministro da Defesa, está numa disputa intestina com o general Augusto Heleno -- aquele que recebeu Sara Winter -- pelo lugar de vice na chapa de Bolsonaro. Parece loucura? Parece. É que a turma do centrão já não está tão interessada na vaga...

E quem está em tratativas com o TSE, segundo Bolsonaro? Ninguém menos do que Braga Netto. Vale dizer: aquele que estaria atuando em nome das Forças Armadas usa a questão para se cacifar internamente e para fazer proselitismo político. Reitero: voltem à fala do presidente. É como se a última palavra sobre a realização ou não de eleições fosse mesmo das Forças Armadas. É golpismo liofilizado, à espera de água quente para o caldo engrossar. Essa gente tem de responder por isso.

COMISSÃO
Existe uma Comissão de Transparência das Eleições, integrada pelo general Heber Portella. Ele teria restrições ao sistema de segurança, que não são endossadas pelos outros membros. Elaborou um documento sigiloso expressando as suas preocupações e teria apresentado a Braga Netto e aos respectivos comandantes das Três Forças. Como se nota, o troço não serviu para cobrar informações, mas para alimentar a conversa golpista. É do balacobaco!

Na live, Bolsonaro saiu-se com esta:
"O que nós queremos, que todo o povo brasileiro quer, são eleições limpas e transparentes. O que nós queremos é que essas questões sejam brevemente esclarecidas. As Forças Armadas foram convidadas a participar do processo eleitoral. Eu sou o chefe supremo das Forças Armadas. Aceitamos. O nosso pessoal então, a convite do TSE, começou a levantar possíveis vulnerabilidades para ajudar o TSE".

Como se nota, ele transformou a participação na comissão num esforço de desestabilização das eleições. Não se conforma com o fato de que, se a disputa ocorresse hoje, ele seria derrotado por qualquer um dos possíveis postulantes, sendo grande a chance de Lula vencer no primeiro turno.

Eis aí. Embora Bolsonaro tenha afirmado pela enésima vez que não acredita em pesquisas, evidenciou que também ele vê a possibilidade de a eleição se resolver em uma etapa apenas. Disse:
"Eleição tem de ser resolvida em dois turnos [porque] não pode terminar e ter dúvida".

Ou seja: se Lula vencer no primeiro turno, ele pretende gritar "fraude!". Um candidato que tenha 50% mais um dos votos válidos leva de cara. Ponto. É a regra do jogo.

QUEREM PRETEXTOS, NÃO MOTIVOS
A participação ativa das Forças Armadas no processo prévio de realização das eleições é inédita. E se dá a convite do TSE. O general Fernando Azevedo e Silva, ex-ministro da Defesa, assume neste mês o cargo de diretor-geral do tribunal. Essas iniciativas buscavam conter o burburinho golpista em setores das Forças Armadas -- minoritários, mas existem -- e desarmar o discurso de Bolsonaro. Ocorre, meus caros, que, como evidencia a fábula do lobo e do cordeiro, os truculentos não precisam de motivos, só de pretextos. Mas a truculência vai perder desta feita. Restará como o lobo bobo.

MAIS UM CRIME ELEITORAL
À live em que, pois, voltou a ameaçar as eleições, estava presente o ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho. Aproveitou para fazer proselitismo contra o PT, somando os crimes de campanha eleitoral antecipada, uso de recursos públicos para proselitismo eleitoral e improbidade administrativa. Disse:
"[O PT] aparelhou a máquina estatal e causou prejuízo à população como um todo. O que existe hoje é uma narrativa da imprensa que quer fazer crer que já existe esse clima de 'já ganhou'. A população brasileira vai se lembrar do que ocorreu no governo do PT, que se notabilizou pelo assalto ao erário público. Os que se esqueceram serão lembrados na eleição".

Marinho é pré-candidato ao Senado pelo Rio Grande do Norte e disputa com outros aliados o coração de Bolsonaro. Pois é. Será uma ótima oportunidade de ele explicar como se deu o chamado "tratoraço" — superfaturamento na compra de tratores e máquinas — no coração do seu ministério.

Prestem atenção! Ele que faça as acusações que quiser na disputa eleitoral e que arque com o peso daquilo que disser. O que definitivamente não pode é fazer campanha eleitoral com dinheiro público, como se dá na visita de Bolsonaro ao Nordeste e na própria "live".

Quando essa gente não está com conversa golpista, está fraudando as eleições por outros meios.

Por Reinaldo Azevedo

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