quinta-feira, 14 de abril de 2022

Nas palavras de Guedes, Bolsonaro decidiu "destruir a economia brasileira"


Paulo Guedes, ministro do Economia. Era contra o reajuste linear a todos os servidores.
Perdeu de novo Imagem: Fotoarenas

Há precisamente uma semana, num evento no mercado financeiro, o ministro da Economia, Paulo Guedes, vendeu barato o apocalipse, como ele costuma fazer. Ele pode também oferecer o paraíso por uma quantia módica. Tudo depende de seu estado de espírito. O funcionalismo vinha pressionando por reajuste, e ele mandou brasa:

"Agora, se começar a dar reajuste para todo mundo, nós estamos empurrando o custo para filhos e netos, além de destruirmos a nossa economia também. Porque nós vamos voltar a lógica da realimentação inflacionária, de indexar tudo outra vez".

No Orçamento de 2021, o governo federal reservou apenas R$ 1,7 bilhão para reajustes salariais. A ideia era contemplar policiais federais e outros servidores da área de segurança. Mas, obviamente, os demais protestaram. Nesta quarta, então, Jair Bolsonaro decidiu bater o martelo: dará um reajuste linear de 5%, a partir de julho, para todo mundo, inclusive para os militares. Nas palavras de Guedes, o presidente, então, teria decidido "destruir a nossa economia".

Em ano eleitoral, a lei proíbe reajuste 180 dias antes do pleito que exceda a reposição inflacionária. Segundo a maioria dos analistas, a inflação deve ficar em 7%. Só neste ano, o custo será de R$ 7,9 bilhões, dados os reajustes que serão aplicados também nos demais Poderes.

Como o governo vai fazer? Ninguém sabe. Na hipótese de que a economia não seja destruída, como anteviu Paulo Guedes, algo acontecerá. Já hoje os gastos têm de ser contingenciados para não estourar o novo teto, aquele que surgiu da mutreta com a PEC dos Precatórios. Com a elevação de gastos, os cálculos terão de ser refeitos. Ou furar o teto já furado...

Os que já não acreditavam em reajuste nenhum podem ter ficado um tantinho satisfeitos. Os mobilizados em favor da correção estão revoltados é com o índice, que consideram irrisório. Leio na Folha: "O presidente do Fonacate (Fórum Nacional Permanente de Carreiras Típicas de Estado), Rudinei Marques, criticou a medida, ao apontar que a defasagem salarial dos servidores federais está entre 30% a 40%. 'Então, recomposição de 5% é mais do que inaceitável, é revoltante.'"

Tânia Prado, presidente do SINDPF-SP (Sindicato dos Delegados de Polícia Federal do Estado de São Paulo) emitiu uma nota: "Estamos indignados com o tratamento desrespeitoso que o governo está dando à Polícia Federal, em termos claros: o clima interno está insustentável. Não se trata assim aqueles que são os sustentáculos da segurança pública do país. O discurso do governo, desta forma, é vazio, pois não valoriza as forças de segurança da União nem a PF. Tudo demonstra que a PF não é prioridade para este governo e que mentiras foram ditas."

Bolsonaro tinha um problema: a mobilização dos servidores em favor do reajuste. Parece estar agora com dois: além da reivindicação, que continua, a necessidade de contingenciar ainda mais verbas do Orçamento. Cortar de onde? Um gaiato poderia sugerir que se pegasse a grana do FNDE, na qual larápios estão de olho ou já enfiando a mão. Mas não pode. Há limitações legais. De resto, aqueles recursos têm de ser aplicados em benefício dos estudantes brasileiros mesmo. Dos estudantes! Não de bandidos.

Por Reinaldo Azevedo

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