quarta-feira, 13 de abril de 2022

Incêndio do MEC já se alastrou para a Casa Civil


Imagem: "O presidente Bolsonaro vai ganhar a eleição no Nordeste? Não.", avaliou o ministro
da Casa Civil, Ciro Nogueira. Foto: Isac Nóbrega/PR

Em campanha permanente pela reeleição, Bolsonaro precisa submeter seu discurso a uma lufada de ar fresco. O escândalo do Ministério da Educação carbonizou a retórica segundo a qual não há corrupção no governo. Após dizer que colocava "a cara no fogo" por Milton Ribeiro, um ministro que seria afastado na semana seguinte, o presidente convive com labaredas no quarto andar do Planalto, a um lance de escada do gabinete presidencial. O incêndio do MEC deixou a Casa Civil de Ciro Nogueira em chamas.

Desafetos de Ciro Nogueira no governo passaram a realçar em privado a inconveniência de manter num posto que coordena todas as ações do governo um líder do centrão que tem as digitais impressas no caso do MEC. O FNDE, Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, epicentro do escândalo, é presidido por Marcelo Ponte, um ex-chefe de gabinete de Ciro Nogueira. Submetido ao burburinho, Bolsonaro não esboça a intenção de trocar o chefe da Casa Civil.

O constrangimento cresceu desde a última sexta-feira, quando se descobriu que a Polícia Federal concluiu que Ciro Nogueira cometeu os crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por ter recebido propina da JBS em troca do apoio do seu PP à reeleição de Dilma Rousseff em 2014.

O mal-estar aumentou ainda mais com a notícia sobre depoimento prestado por Marcelo Ponte à Controladoria-Geral da União. O apadrinhado do chefão da Casa Civil reconheceu ao órgão de controle que ouviu insinuações desqualificadas de Arilton Moura, um dos pastores acusados de trocar propinas de prefeitos por verbas verbas do FNDE.

"Me ajude, que eu te ajudo", disse o pastor ao chefe do FNDE. Na semana passada, Marcelo Ponte sonegou a informação sobre essa abordagem direta do pastor Arilton ao depor na Comissão de Educação do Senado. Ali, o cupincha de Ciro Nogueira declarou que os pastores lobistas apenas "faziam orações" nas reuniões do MEC.

Num governo que tivesse preocupação genuína com a moralidade, Ciro Nogueira e seu protegido já estariam no olho da rua. Mas Bolsonaro parece intuir que o afastamento do seu chefe da Casa Civil chamuscaria não a cara do presidente, mas o próprio projeto da reeleição. Bolsonaro já não governa, é governado pelo centrão.

Por Josias de Souza

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