terça-feira, 26 de abril de 2022

Brasil virou República terapêutica para tratar Bolsonaro de suas loucuras



Com um único lance —o decreto de indulto do deputado Daniel Silveira—, Bolsonaro deu um nó no Supremo Tribunal Federal, despertou no Congresso o instinto de sobrevivência, calou o rival Lula e pautou a imprensa. É como se o presidente tivesse transformado o Brasil numa República terapêutica para tratar das suas loucuras.

Em 2018, Eduardo Bolsonaro causou frisson ao dizer que bastariam um cabo e um soldado para fechar o Supremo. Seu pai precisou apenas de um decreto para anular a supremacia da Corte. Se Bolsonaro é maníaco, os ministros do Supremo são depressivos. A Corte piscou. Alguns de seus ministros querem reabrir canais de diálogo com o presidente, que desautorizou a negociação de qualquer armistício.

Relatora de quatro ações contra o perdão do presidente ao aliado condenado a quase nove anos de cadeia, a ministra Rosa Weber não se animou a suspender o decreto com uma liminar. Concedeu 15 dias para explicações. Em teoria, serão dez dias para Bolsonaro e cinco para a Advocacia-Geral da República. Na prática, é um prazo que o Supremo dá a si mesmo para decidir como lidar com Bolsonaro.

Alheio às hesitações, o presidente já armou o próximo bote. Insinuou que pode descumprir futura decisão do Supremo sobre o marco temporal para terras indígenas.

Lula evita há cinco dias comentar esta penúltima manobra de Bolsonaro. Chama de estratégia um silêncio que mais se parece com covardia. No Congresso, trama-se a aprovação de projeto para dificultar a cassação de mandatos (o de Silveira e de tantos outros).

Na imprensa, o noticiário sobre a crise institucional ocupa parte do espaço antes dedicado aos assaltos no Ministério da Educação.

O país piorou. Mas pesquisas encomendadas pelo PL informam que o índice de intenção de votos do presidente melhorou. Antes, o centrão vigiava Bolsonaro. Agora, exclama: Santa demência!

Tudo enlouquece Bolsonaro, exceto a inflação, o desemprego e a anestesia econômica. Os brasileiros têm cinco meses para decidir se darão alta ao presidente ou se renovarão a internação por mais quatro anos.

Por Josias de Sousa

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