quinta-feira, 31 de março de 2022

Cerco financeiro expõe o 'burricídio' de Silveira



Mal comparando, Alexandre de Moraes usou contra Daniel Silveira uma tática semelhante à que foi empregada pelos países da OTAN contra Vladimir Putin. O ministro do Supremo impôs sanções econômicas ao deputado. Ao ser informado de que a fuga da tornozeleira eletrônica resultaria no bloqueio de suas contas bancárias e no pagamento de multa diária de R$ 15 mil, com desconto no contracheque, o guerreiro bolsonarista percebeu que se metera numa espécie de roleta russa —que não deixa de ser uma modalidade de suicídio. Ou 'burricídio', no caso de Silveira.

Horas antes da rendição do deputado, o réu Arthur Lira, presidente da Câmara, emitiu uma nota dúbia. Nela, defendeu o cumprimento da ordem judicial. Mas realçou que o plenário da Câmara é "inviolável". A inviolabilidade constitucional existe para proteger o exercício do mandato parlamentar, não para oferecer escudo a meliantes. No despacho em que encurralou o deputado fortão, Moraes chamou de "estranha e esdrúxula" a cena em que um deputado usa o Parlamento como "covil".

Cada passagem esdrúxula desse caso parece ter sido construída para nos obrigar a usar a palavra "esdrúxula", uma proparoxítona que inibe as reações mais sérias. Temos um deputado reles da milícia de Bolsonaro defendendo atrocidades como o AI-5; um inquérito que nasceu torto e sobrevive graças ao aval unânime do Supremo; e uma Câmara federal 100% feita de réus, condenados e cúmplices. Uma Casa que não se constrange em manter a desqualificação nos seus quadros. Tudo isso e mais um presidente golpista, cuja presença no Planalto estimula e justifica o resgate da palavra "esdrúxula" para traduzir a conjuntura extravagante.

Nenhum comentário: