quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Bolsonaro deixa ao relento 20 milhões de pobres



Bolsonaro prometia há mais de um ano criar um novo programa de renda mínima para manter o socorro aos brasileiros pobres na fase pós-pandemia. Seria perene como o Bolsa Família, só que mais gordo e com um número bem maior de beneficiários. A equipe econômica sugeria o valor mensal de R$ 300. O presidente elevou para R$ 400. Nesta quarta-feira, começa a ser pago o Auxílio Brasil. O valor médio é de R$ 217,18. E cerca de 20 milhões de brasileiros que recebiam o socorro da pandemia ficarão ao relento.

O Bolsa Família, programa com 18 anos de sucesso, foi extinto. O novo benefício está escorado numa medida provisória pendente de votação no Congresso. E o reajuste para R$ 400, a ser concedido a 14,6 milhões de famílias, depende da aprovação da PEC dos precatórios, que sofre resistências no Senado. Se o dinheiro for obtido, o novo benefício só valerá até 31 de dezembro de 2022. Quer dizer: o que deveria ser um programa de renda mínima tornou-se uma empulhação eleitoral.

Nesse contexto, Bolsonaro provocou desânimo na equipe econômica e desalento nos operadores do governo no Congresso ao prometer reajuste salarial para todos os servidores. A PEC dos precatórios —ou emenda da reeleição— dá o calote em dívidas judiciais para acomodar R$ 92 bilhões numa laje acima do teto de gastos. Subtraindo desse valor o Auxílio Brasil, algo como R$ 47 bilhões, faltará dinheiro para pagar tudo o que Bolsonaro já prometeu: Bolsa Caminhoneiro, vale gás, Bolsa Centrão, aditivo para o fundo eleitoral, desoneração da folha salarial de empresas de 17 setores.

Juntando-se tudo isso aos gastos correntes obrigatórios, que ficarão mais salgados por conta do descontrole da inflação, a conta ficaria muito acima dos R$ 100 bilhões. Um reajuste salarial de 5% para os servidores custaria mais de R$ 15 bilhões em 2022. Como corte de gastos é uma expressão que não consta do vocabulário de Bolsonaro, consolidou-se a impressão de que o presidente apertou o botão de dane-se. Em vez de ganhar votos, como imagina, arrisca-se a perder. A crise econômica tende a engolir o plano de reeleição.

Por Josias de Souza

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