quinta-feira, 30 de setembro de 2021

Dono da Havan faz da CPI caso para o Procon



A plateia ficou autorizada a exigir o seu dinheiro de volta. Pagou o palco, a iluminação, o som e a TV Senado para transmitir. Forneceu a estrutura para os senadores se prepararem da melhor maneira: o apartamento funcional, o transporte, o psicólogo e todos aqueles assessores. Interrompeu outras atividades para dar atenção integral ao depoimento do dono da Havan. Investiu essa fortuna para receber aquele espetáculo circense? Estava certo que Luciano Hang faria as palhaçadas habituais na CPI da Covid. Mas o mínimo que se esperava dos senadores era uma boa frase, um insulto mais sofisticado, uma ironia refinada, uma bala de prata qualquer que compensasse o custo.

Na prática, Hang ganhou de presente um comercial hipertrofiado da Havan, com direito à exibição de um vídeo institucional da sua rede de lojas. Tudo financiado pelo déficit público, com reprodução gratuita na GloboNews e na CNN. Antes de chegar à CPI, Hang chamara Renan Calheiros de corrupto nas redes sociais. Mordendo a isca, o relator da CPI insinuou que o depoente é o bobo da corte. Chefe da milícia parlamentar que ofereceu serviço de guarda-costas a Hang, o primogênito Flávio Bolsonaro reagiu: "Cinismo".

No final, a CPI não conseguiu senão provar que Luciano é mesmo o Hang que todos imaginavam —um sujeito que se veste como papagaio, vive no ombro de Bolsonaro, acha que o isolamento social prejudica os negócios, anuncia em sites de notícias falsas, autoriza a Prevent Senior a enfiar cloroquina na goela da mãe com Covid, dando de ombros para a omissão da doença na certidão de óbito.

Alguns senadores farejaram a fiasco. Tentaram desconvocar Luciano Hang. Mas Renan Calheiros bateu o pé. O relator não é um adversário de pouca expressão. Trata-se de um peso pesado, ex-presidente do Senado. Embora seus colegas estejam desolados, Renan acha que impôs constrangimentos ao depoente. Demora a perceber que foi convertido em coadjuvante no picadeiro de Hang, um ego mais articulado. Se pudesse, a plateia recorreria ao Procon. O brasileiro adora um picadeiro. Mas não suporta fazer papel de palhaço.

Por Josias de Souza

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