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| Em áudio, deputado do PSL cita cargos em troca de votos na Previdência |
Bolsonaro foi ao Twitter, seu habitat natural, para explicar-se: "A Emenda Constitucional 86/2015 tornou as emendas parlamentares individuais impositivas, portanto independe da vontade do presidente a sua liberação. Outros recursos previstos no orçamento, havendo disponibilidade, também são liberados para obras em estados ou municípios", anotou. Meia verdade.
De fato, o pagamento das emendas é impositivo. Mas cada deputado tem direito a R$ 15,4 milhões por ano. Nada a ver com as verbas "extra-orçamentárias" negociadas com Onyx. De resto, o que dá à operação ares de troca-troca é a atmosfera de chantagem que impregnou o ar seco de Brasília. Os deputados condicionaram o voto às liberações. E Bolsonaro desceu do salto que escalara na campanha para o chão escorregadio da Câmara, um solo que ele pisou durante 28 anos.
Numa conversa privada, o capitão cuidou de diferenciar o pagamento de emendas que autorizou do toma lá, dá cá espúrio. "Ninguém viu mala de dinheiro circulando", declarou. No Twitter, Bolsonaro escreveu: "No passado, como todos sabem, os métodos eram outros. Hoje, o parlamento está mais que consciente de sua responsabilidade, do que devem ou não aprovar ou aperfeiçoar, sempre focado no bem-estar de todos."
Na Era tucana, Fernando Henrique Cardoso justificava as concessões à banda arcaica do Parlamento invocando a "ética da responsabilidade" de Max Weber. Sem a mesma erudição, Lula eximiu-se de teorizar sobre a devassidão que o levou a comprar apoio parlamentar em meio a uma erupção de lama que desaguou no mensalão e no petrolão.
Sob Bolsonaro, o apetite fisiológico retorna aos padrões tradicionais: emendas e, a depender da vontade dos líderes, cargos no segundo escalão. O capitão piscou. Revelou-se capaz de gestos de pragmatismo que o fizeram conquistar até os ansiados privilégios previdenciários para a corporação dos policiais, sua preferida.
Aos olhos do centrão, o capitão entrou. no jogo. Ganhou orelhas de lobo, focinho de lobo e dentes de lobo. Embora continue escrevendo no Twitter como uma inocente vovozinha disfarçada, foi dando que Jair Bolsonaro recebeu o apoio dos partidos do centrão e seus congêneres na Câmara.

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