quarta-feira, 2 de junho de 2010

Radicalizações

De Merval Pereira:

O clima de Fla-Flu que predomina na política brasileira, com a polarização entre PT e PSDB na eleição presidencial, provoca distorções graves no comportamento dos militantes que repercutem na sociedade como um todo, criando um ambiente propício à radicalização de posições.

Peguemos dois fatos de nossos dias, a transgressão da lei eleitoral por parte do presidente Lula e o acordo nuclear do Irã com a mediação do Brasil e da Turquia.

Qualquer pessoa que considere inaceitável o comportamento do presidente Lula, usando seu poder político e a alta popularidade para alavancar a candidatura de Dilma Rousseff à sua sucessão, é considerado um golpista em potencial.

Da mesma maneira que qualquer um que critique a atuação do Brasil na negociação com o Irã é considerado antipatriota ou submisso ao imperialismo americano, por mais anacrônico que esse conceito pareça.

No entanto, há fundadas razões para se considerar até mesmo a impugnação da candidatura oficial por abuso de poder político, como já ocorreu diversas vezes com prefeitos e governadores estaduais.

Assim como há inúmeras razões para se discordar da posição brasileira, a começar pela própria natureza do governo do Irã, uma ditadura teocrática que não tem mecanismos internos, próprios da democracia, para controlar os arroubos totalitários de seus aiatolás atômicos.

O Brasil se colocou ao lado do Irã, em contraposição aos Estados Unidos. Mas não estamos tratando do governo de George W. Bush, justamente condenado pela comunidade internacional pela belicosidade com que enfrentava os conflitos internacionais, e nem os Estados Unidos de Obama é um país que tenta impor sua hegemonia à comunidade internacional.

Eleito por ser o contrário da era Bush, o presidente dos Estados Unidos ganhou o Prêmio Nobel da Paz pelos compromissos de pacificação que assumiu.

E suas atitudes vêm tendo consequências concretas, como o acordo de desarmamento com a Rússia, ou a tentativa reiterada de negociação com o próprio Irã.

Como então considerar confiável a ditadura teocrática do governo de Mahmoud Ahmadinejad e não aceitar as ponderações do governo democrático dos Estados Unidos?

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