sábado, 1 de abril de 2023

Brasil precisa parar de tratar militar como bibelô




Depois da Presidência de Bolsonaro e da intentona de 8 de janeiro, qualquer celebração do aniversário de 59 anos do golpe militar de 64 adicionaria a todos os ultrajes uma dose insuportável de escárnio. Mas o silêncio dos quarteis, a essa altura um imperativo institucional, é uma resposta insuficiente para os crimes, as infrações e os erros que os militares cometeram nos últimos anos.

A lista de falhas e delinquências é vasta. Inclui a conversão do Ministério da Saúde num acampamento militar em plena pandemia, a compra superfaturada de cloroquina, a terceirização da Amazônia ao crime organizado, a presença de fardas em motociatas e comícios, a cumplicidade no questionamento às urnas eletrônicas, a proteção aos acampamentos golpistas de porta de quartel e a desproteção do Planalto durante o quebra-quebra.

Se o slogan sem anistia já não estivesse meio embolorado, o governo, a academia, o Legislativo e os próprios militares estariam mergulhados num debate sobre a reformulação das Forças Armadas. Levando-se o debate a sério, estariam na pauta da despolitização dos quarteis à higienização dos currículos das escolas militares.

Não é justo que sejam implantadas nos cérebros dos filhos dos generais as mesmas perversões que atormentam a democracia brasileira como unhas encravadas. Infelizmente, o país continua tratando os militares como bibelôs intocáveis. Depois de Bolsonaro, esse hábito tornou-se ainda mais deletério.

Nenhum comentário: