sábado, 15 de janeiro de 2022

Bolsonaro golpista bota asinhas de fora e dá pista da campanha eleitoral



Na semana passada, Jair Bolsonaro voltou a dizer que roubaram seus votos em 2018 —sua vitória teria ocorrido no primeiro turno, caso as eleições fossem "limpas". Voltou a atacar ministros do Supremo Tribunal Federal. Disse que Alexandre de Moraes e Luís Barroso são lulistas.

O Bolsonaro freneticamente golpista de setembro de 2021 volta a botar as asinhas de fora. O arroz com feijão bolsonarista está no prato —ou, melhor dizendo, o pão com leite condensado está na mesa. São mais pistas do que deve ser a campanha da reeleição, sinais visíveis desde a virada do ano de vadiagem e desumanidades. Parece que Bolsonaro e sua turma querem garantir votos para passar para o segundo turno e ver o que dá no mata-mata final.

Como? Com favores localizados e loucura generalizada. Quer garantir aqueles eleitores que, depois de tudo, ainda o apoiam, cerca de 25%, o bastante provavelmente para jogar para fora da pista o pessoal da "terceira vida", apesar de dois terços do eleitorado o rejeitarem.

Bolsonaro quer uma medida provisória a fim de reajustar a tabela do Imposto de Renda, promessa da campanha de 2018. Dá para fazer, com alguma gambiarra no déficit público. Não vai render lá muito voto, mesmo isentando de imposto uma meia dúzia de milhão de eleitores. Pode tentar outros remendos do tipo.

Afora medidas muito alopradas, Bolsonaro não terá muito mais o que arrumar na frente eleitoral dita "econômica". O ritmo de crescimento da economia e o da inflação estão fora do seu controle; na melhor das hipóteses, teremos estagnação do PIB e taxa de inflação caindo pela metade, mas com um nível de preços insuportavelmente alto.

O interesse maior é manter vivo ao menos parte dos fogos dos infernos que o levaram ao poder, em 2018.

Voltou a falar com frequência da facada. Atacou a lisura do sistema eleitoral, ressalte-se, cometendo mais crimes. Moraes e Barroso tocam, lentamente, aliás, os inquéritos sobre essas mentiras, tratadas no Código Penal e na lei do impeachment.

Chamou os dois de lulistas e mais. "Quem eles pensam que são? Vão tomar medidas drásticas dessa forma, ameaçando, cassando liberdades democráticas nossas, a liberdade de expressão. Porque eles não querem assim, porque eles têm candidato. Os dois, nós sabemos, são defensores do Lula, querem o Lula presidente", disse.

É um sinal de que vai apelar ainda mais ao mote de candidato contra o "sistema" que agasalha corruptos e o impede de governar. É teoria da conspiração com fumaças golpistas.

Bolsonaro também açula sua base mais fanática com uma dose de reforço de sua campanha contra as vacinas, sabotando a imunização das crianças e fazendo ataques injuriosos à Anvisa. É um indício de que vai apelar aos piores sentimentos e ignorâncias para manter junto de si o que restou de seu eleitorado.

Sim, piores sentimentos: na sua vadiagem dezembrina, fez questão de se mostrar indiferente aos sofrimentos de quem morreu ou perdeu tudo nas enchentes da Bahia.

Na frente política, deu a Ciro Nogueira mais poder de dirigir para ali ou acolá doces gordos do Orçamento. Nogueira é ministro da Casa Civil, presidente licenciado do PP, cardeal, pois, do centrão e deve ser um dos coordenadores de campanha de Bolsonaro. Vai se pagar palanque com rabichos do Orçamento.

Bolsonaro ainda quer dar um jeito de reajustar salários de policiais federais até a metade do ano. Não rende voto e, se houver aumento, vai dar rolo com servidores, talvez contraproducente. Mas ele quer manter a fidelidade de parte dessa tropa. Para quê?

O arsenal de loucuras pode garantir presença no segundo turno, uma sobrevida para tumultuar a eleição o quanto puder.

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