É claro que o presidente Jair Bolsonaro está em pânico, e o apoio explícito a protestos em favor do emparedamento do Congresso e do Supremo é uma evidência do seu medo.
Há muito a ser feito, é verdade, para que o país possa voltar a crescer a taxas minimamente decentes, que consiga resgatar, em níveis aceitáveis, a gigantesca dívida social que, esta sim, cresce de modo estupefaciente, como evidenciam as filas absurdas do Bolsa Família e do INSS.
O que é um crescimento decente? Acho que começa ali pela casa dos 3%, embora seja preciso ambicionar mais para que, num prazo de algumas décadas, pretos e pobres não morram mais a bala ou soterrados; para que se possa dotar a educação de um padrão que não mais condene nossas crianças a reproduzir a pobreza dos país; para que a renda do trabalho crie um mercado interno vigoroso e seja um dos esteios da expansão da economia.
O fato é que os magos planaltinos não esperavam aquele constrangedor 1,1% em 2019, e há vozes realistas em penca que não enxergam nada muito melhor em 2020. E, ora vejam, nem a antes tão malhada taxa estratosférica de juros pode ser chamada à responsabilidade. Os juros nominais e reais nunca foram tão baixos. O que falta ao país é investimento de fora e de dentro.
E por que eles não vêm? Não é por culpa do passado herdado pelo presidente; não é por culpa do Congresso — que, como se mostra aqui, forneceu ao presidente os instrumentos necessários —; não é por culpa da oposição, que ainda está na área de aquecimento da avenida e não saiu para o desfile. O principal culpado é Bolsonaro.
Como apontou com correção Rodrigo Maia, presidente da Câmara, é o chefe do Executivo o principal fator de descrédito do governo brasileiro no mundo. O dinheiro grosso não chega a um país em que o presidente da República vive num clima de guerra permanente com os outros dois Poderes. Como a grana não vem, o crescimento não acontece; como o crescimento não acontece, a grana não vem.
E o que decide, então, fazer o nosso ogro que se pretende demiurgo? Ora, dar apoio a protestos que vão aumentar a crispação entre os Poderes, diminuindo o clima de confiança, o que contribui para afastar ainda mais os investidores, o que compromete o crescimento. Eis o ciclo vicioso de Jair Bolsonaro.
Pistoleiros disfarçados de empresários anunciam apoio aos protestos, o que sugeriria certo alinhamento do capital com a pauta contra o Congresso e o Supremo. É mera ilusão. Estes que se mostram nessas patuscadas não têm peso relevante na economia e, na maioria das vezes, são arrivistas em seu próprio meio, que enxergam a oportunidade de se colocar como vozes influentes.
Faz sentido num tempo em que Bolsonaro é presidente, mas a verdade é que não têm peso nenhum. O dinheiro que realmente conta está alarmado com a irresponsabilidade do presidente. E, por isso, não vem.
Por Reinaldo Azevedo
Nenhum comentário:
Postar um comentário