quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Decisão de Lewandowski é escancaradamente inconstitucional


O presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), ministro Ricardo Lewamdowski durante sessão deliberativa extraordinária para votar a Denúncia 1/2016, que trata do julgamento do processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff por suposto crime de responsabilidade - 31/08/2016

O presidente do Supremo, no comando da votação do Senado, tomou uma decisão inconstitucional. O que diz o Parágrafo Único do Artigo 52 da Constituição?
“Nos casos previstos nos incisos I (processo contra presidente da República) e II (processo contra STF), funcionará como Presidente o do Supremo Tribunal Federal, limitando-se a condenação, que somente será proferida por dois terços dos votos do Senado Federal, à perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis.”

Atenção: a Constituição não separa a inabilitação da perda do cargo. Lewandowski tomou tal decisão por conta própria. E, tudo indica, já havia entendimentos subterrâneos para que assim fosse. O destaque é descabido.

Mais do que isso: trata-se de uma decisão absurda em essência: então, pelo crime cometido (e foi), Dilma não pode continuar com o mandato que ela já tem, mas poderia disputar um outro?

Eu gostaria muito que Lewandowski explicasse que trecho do Parágrafo Único do Artigo 52, que palavra, que ordenamento de vocábulos lhe conferiu licença para fazer a votação em separado.

O que se está usando como fiapo legal para justificar a decisão é o Artigo 33 da Lei 1.079, onde se lê o seguinte sobre o presidente da República:

“Art. 33. No caso de condenação, o Senado por iniciativa do presidente fixará o prazo de inabilitação do condenado para o exercício de qualquer função pública; e no caso de haver crime comum deliberará ainda sobre se o Presidente o deverá submeter à justiça ordinária, independentemente da ação de qualquer interessado.”

Pois é… Mas aí o princípio “Massinha I” do Direito: a Constituição é a Lei Maior. O que nela está claro, explícito, determinado — como é o caso — não pode deixar de ser aplicado por algum dispositivo de leis menores.

E a Lei da Ficha Limpa?

Dia desses, Gilmar Mendes, ministro do Supremo, disse que essa lei era de tal sorte confusa que parecia ter sido feita por bêbados. Os tolos saíram atacando Gilmar. Então vamos ver.

A íntegra do texto está aqui. Trata-se de uma confusão dos diabos. Para começo de conversa, a lei é explícita em tornar inelegível quem renuncia em meio a um processo. Mas não é clara sobre a inelegibilidade de um presidente da República no caso de condenação por crime de responsabilidade. Parece ter sido feita por bêbados.

A Lei da Ficha Limpa teria tornado Dilma inelegível se ela tivesse renunciado. Mas não a torna inelegível depois de condenada.

É uma aberração? É claro que é. Um sujeito que tenha sido expulso, por qualquer razão, de um conselho profissional — de contadores, por exemplo — está inelegível. Mas não o chefe do Executivo Federal que tenha cometido crime de responsabilidade. Coisa de bêbados. Ainda bem que a memória existe. Ainda bem que o arquivo existe. Sempre afirmei aqui que essa lei era estúpida, ainda que tenha algumas qualidades.

Gente como Lewandowski e Renan Calheiros se aproveita dessas ambiguidades e rombos para fazer peraltices institucionais.

De volta à Constituição
Mas, reitero, esse não é o ponto. O que foi fraudado nesta quarta-feira foi a Constituição. A perda da função pública, segundo a Carta, é inseparável da condenação por crime de responsabilidade.

É claro que uma articulação como essa não se deu no vazio e quer dizer alguma coisa. Também traz consequências Tratarei o assunto em outro texto.

E agora?
Bem, agora entendo que cabe recorrer ao Supremo contra a decisão tomada por Lewandowski. Será uma saia-justa? Ah, será. Quero ver como irão se pronunciar os demais ministros.

O que Lewandowski fez foi tornar ainda mais complexa a batalha jurídica. A defesa de Dilma já disse que irá recorrer ao Supremo contra a condenação. Não terá sucesso, claro!, mas terá um argumento moral a mais: tanto o Senado acha Dilma honesta que não a inabilitou para a função pública.

E os favoráveis à cassação, entendo, têm de apelar à Corte. Lewandowski tomou uma decisão absolutamente arbitrária, ao arrepio da Constituição.

Senado encerra mandato de Dilma e fecha ciclo de poder do PT


A presidente afastada, Dilma Rousseff


Dilma Rousseff, aos 22 anos, responde a um interrogatório na sede da Auditoria Militar do Rio de Janeiro em 1970
Dilma Rousseff, aos 22 anos, responde a um interrogatório na sede
da Auditoria Militar do Rio de Janeiro em 1970 (Arquivo DOPS/Dedoc)
O primeiro julgamento de Dilma Vana Rousseff se deu há 46 anos e foi imortalizado em uma fotografia que estampou a capa do extinto jornal Última Hora em 18 de novembro de 1970: aos 22 anos, a militante da luta armada contra a ditadura militar encara com uma firmeza triste o tribunal, enquanto os que a julgam escondem seus rostos da câmera. Dilma foi torturada e condenada a seis anos de cadeia, dos quais cumpriu 28 meses, até o final de 1972, no Presídio Tiradentes, em São Paulo. O segundo julgamento de Dilma Vana Rousseff encerrou-se nesta quarta-feira. Às 13h35 o painel do Senado Federal confirmou o já esperado veredicto: por 61 votos a 20, ela foi condenada por crime de responsabilidade – e definitivamente afastada do Palácio do Planalto, embora tenha mantido os direitos políticos. A postura dos juízes deste 31 de agosto e o fato de Dilma ter sido eleita com pouco mais de 54 milhões de votos em outubro de 2014 escancaram a diferença fundamental entre os dois períodos históricos: o Brasil é hoje uma democracia. E um regime democrático não é simbolizado apenas pelo voto popular. São as instituições que formam um Estado democrático de direito.

Ao chancelar o processo que culminou na queda de Dilma, as instituições brasileiras acabaram também por encerrar o ciclo de poder do Partido dos Trabalhadores – uma sigla que, nos treze anos que ocupou o Planalto, maior hegemonia de um partido desde a redemocratização, tentou se apropriar do Estado. Em nome de seu projeto de poder, o governo petista cometeu os crimes orçamentários que embasaram a denúncia contra a presidente, ao praticar reiteradamente pedaladas fiscais para maquiar contas públicas e esconder do país a grave crise que se avizinhava, de modo a garantir a reeleição de Dilma em 2014. Em nome de seu projeto de poder o PT institucionalizou o assalto aos cofres da Petrobras e recebeu doações eleitorais disfarçadas de empreiteiras como forma de lavagem de dinheiro. Em nome de seu projeto de poder o PT fez uso de dinheiro desviado das estatais para comprar parlamentares: o mensalão e o petrolão são, portanto, fruto da tentativa petista de se perpetuar no poder. Três tesoureiros da sigla, além de próceres petistas como José Dirceu, terminaram na cadeia em nome desse projeto. A desgovernança dos anos de PT no Planalto semeou a crise econômica e política pelas quais hoje o partido presta contas.

Ainda assim, afora tímidas admissões de erros pontuais, o processo de impeachment não resultou em um mea culpa do partido. Dilma e o PT insistem em dizer que a democracia brasileira sofre um golpe, e que seu impeachment representará uma ruptura institucional. Também vituperaram, em uma versão ampliada do terrorismo eleitoral levado a cabo em 2014, que Michel Temer acabaria com programas sociais e cortaria direitos trabalhistas. Enunciado esperado de quem insiste na retórica irredimível de que misteriosas “forças conservadoras” querem apeá-la do poder.

Ao falar aos senadores na segunda-feira, Dilma afirmou: “Hoje, mais uma vez, ao serem contrariados e feridos nas urnas os interesses de setores da elite econômica e política nos vemos diante do risco de uma ruptura democrática. Os padrões políticos dominantes no mundo repelem a violência explícita. Agora, a ruptura democrática se dá por meio da violência moral e de pretextos constitucionais para que se empreste aparência de legitimidade ao governo que assume sem o amparo das urnas. Invoca-se a Constituição para que o mundo das aparências encubra hipocritamente o mundo dos fatos”. Repetiu nove vezes a palavra ‘golpe’ ao longo de seu discurso discurso – e retomou o tom levemente arrogante e professoral nas respostas aos senadores. Afirmou, como fez durante todo o processo, que não cometeu crime algum.

O resultado da votação de hoje é também reflexo do desprestígio do PT, que deixa o poder de maneira melancólica, imerso em escândalos de corrupção. O quadro se reflete na figura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, padrinho político de Dilma: abandonado pelos amigos, indiciado pela Polícia Federal e réu por tentar obstruir a Lava Jato, Lula esteve em Brasília para tentar reverter votos em prol da pupila tanto na votação na Câmara, em abril, quanto no Senado. Nos dois casos, o impeachment passou com mais votos do que o mínimo necessário. Ainda assim, o partido obteve uma última vitória: na reta final do julgamento, conseguiu emplacar com o ministro Lewandowski o fatiamento da votação – Dilma perde, portanto, o cargo, mas não ainda os direitos políticos. O que parlamentares dilmistas conseguiram, de fato, uma nova interpretação da Carta Magna, a despeito de o artigo 52 da Constituição estabelecer que, no impeachment, aplica-se a “perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis”.

Uma presidente isolada – Dilma isolou-se desde que a Câmara deu prosseguimento ao impeachment. Desde abril a petista entrincheirou-se no Palácio da Alvorada e evitava até mesmo lidar com os servidores. A situação só piorou quando foi formalmente afastada do poder pelo Senado. Como revelou VEJA em julho, Dilma chegou a desabafar nos seguintes termos ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), sobre o processo: “Quero acabar logo com essa agonia”. Várias reuniões, almoços e jantares com senadores foram organizados em busca de apoio para virar o jogo. Até a véspera da votação ela fez corpo-a-corpo com senadores que se diziam indecisos. Sem sucesso. Findo seu calvário, é em Porto Alegre, junto da filha e dos netos, que Dilma planeja viver daqui para frente.

A receita para o desastre contou ainda com a incapacidade da presidente impedida e de seus assessores mais próximos de fazer com habilidade o jogo da articulação política. Quando o impeachment desenhou-se uma onda inevitável, já não lhe restavam mais soldados no Congresso, exceção feita às bancadas do PT e do PCdoB, além de outros satélites que escolheram morrer abraçados em troca de alguma moeda de troca da política. E nem mesmo no partido ao qual se filiou em 2001 Dilma encontrou refúgio: desde a posse esteve às voltas em constantes atritos com a legenda, motivados pela falta de diálogo na elaboração de medidas impopulares de ajuste fiscal

Em seu discurso no Senado, ela não fez nenhum aceno ao PT. Dilma ainda culpou diretamente o partido pelo pagamento de caixa dois ao responsável pelas campanhas que a levaram ao Planalto por duas vezes. Em resposta, o presidente nacional da sigla, Rui Falcão, não hesitou em dar as costas a uma das principais bandeiras de Dilma nos seus últimos momentos como presidente: a proposta de um plebiscito para a convocação de novas eleições. Em clima de divórcio, a legenda quer mesmo é virar a página da presidente condenada – sobretudo para que os resultados da sigla nas eleições municipais de outubro não sejam um completo fiasco.

O processo – O impeachment consumado hoje é um processo jurídico-político e no Congresso respeitou o amplo direito de defesa e o contraditório. Mas fato é que o embasamento jurídico é apenas um requisito do processo de impeachment. Esse processo, na essência, é político. E no campo da política, Dilma se autoinfligiu todos os danos. A corrosão de seu capital começou na campanha de 2014, quando ela mentiu aos eleitores sobre a necessidade de consertos na economia. Seu segundo mandato começou com ajustes de tarifas que ela prometera não fazer e um aumento da inflação que ela jurou que não viria.

Por ironia da história, partiu justamente da boca do senador Fernando Collor de Mello, ao qual Dilma passa a fazer companhia na triste galeria de presidente condenados pelo Senado, a declaração que resume o quadro, feita da tribuna na terça-feira: “Além de infração às normas orçamentárias e fiscais, com textual previsão na Constituição como crime de responsabilidade, o governo afastado transformou sua gestão numa tragédia anunciada. É o desfecho típico de governo que faz, da cegueira econômica, o seu calvário, e da surdez política, o seu cadafalso”. Dilma teve a chance de se cercar de bons tripulantes para realinhar seu barco durante o que ela bradava se tratar de um período de ‘travessia’ e, sobretudo, erguer pontes. Cai, portanto, vitimada pela própria incompetência.

A votação de hoje resiste a qualquer questionamento. Ao longo de oito meses, o governo teve ampla oportunidade de atacar na Justiça todos os aspectos da tramitação do processo de impeachment. Seus argumentos foram analisados pelo Supremo Tribunal Federal, acolhidos em alguns casos, rejeitados na maioria. Ainda assim, a defesa da petista ingressará com novo recurso na corte. O impeachment requer a maioria de dois terços do plenário do Senado justamente para garantir que não paire nenhuma dúvida sobre uma decisão de tamanha gravidade. Cabe à Casa o papel de julgadora. Condenar uma presidente por crimes orçamentários passa uma mensagem poderosa: a de que os governantes não recebem carta branca para realizar seus planos de governo a qualquer custo quando ganham uma eleição. Pela importância dessa mensagem para a ordem pública brasileira é que os juízes de Dilma neste 31 de agosto fizeram questão de mostrar os rostos.

Vale e região bragantina têm 2,8 milhões de habitantes, diz IBGE


Banhado em São José dos Campos (Foto: Vanessa Vantine / TV Vanguarda)

G1Vale

As 46 cidades do Vale do Paraíba e a região Bragantina têm população estimada em 2.867.930 habitantes. O levantamento é do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e foi divulgado nesta terça-feira (30). (veja tabela abaixo)

Com acréscimo de 26,6 mil habitantes em relação a 2015, quando tinha 2.841.325 habitantes, o crescimento na região, de 0,93% no período, é superior ao do Estado de São Paulo, que atingiu 0,79% de crescimento.

No ranking, a Região Metropolitana do Vale do se manteve na 12ª maior região metropolitana do Brasil dentre 26 divulgadas pelo IBGE.

A estimativa populacional divulgada pelo IBGE é um dos principais parâmetros utilizados pelo Tribunal de Contas da União (TCU) na distribuição do Fundo de Participação de Estados e Municípios. Os dados têm como referência o mês de julho.

São José dos Campos segue como a maior cidade da região, com 695.992 habitantes e, na outra ponta Arapeí, que é a menor, com 2.516 moradores. A cidade se manteve como a 9ª maior cidade do país, sem considerar as capitais.

Na análise percentual, as cidades que mais cresceram em um ano foram Bom Jesus dos Perdões (2,1%), Potim (2%), Ilhabela (1,8%), Jambeiro (1,77%) e Caraguatatuba (1,54%).

Por outro lado, sete cidades tiveram redução populacional. As maiores quedas foram em Cunha, com redução de 79 habitantes e Piquete, com queda de 75. Natividade da Serra apresentou redução de 16 habitantes em relação a 2015; Redenção da Serra, 11; Arapeí, 8; Lagoinha com cinco e São José do Barreiro com dois.

  •  
MunicípioPopulação
São José dos Campos695.992
Taubaté 305.174
Jacareí  228.214
Bragança Paulista         162.435
Pindamonhangaba162.327
Atibaia 138.449
Guaratinguetá 119.753
Caraguatatuba 115.071
Caçapava 91.883
Lorena 87.584
Ubatuba 87.364
São Sebastião84.294
Cruzeiro81.406
Campos do Jordão51.157
Tremembé45.414
Aparecida 36.248
Cachoeira Paulista32.536
Ilhabela 32.782
Piracaia  26.841
Bom Jesus dos Perdões23.530
Paraibuna 18.166
Nazaré Paulista 17.959
Santa Branca 14.601
Potim 22.911
Cunha  22.007
Piquete  14.048
Joanópolis12.837
Queluz  12.777
São Bento do Sapucaí10.880
Bananal  10.821
São Luís do Paraitinga10.735
Roseira  10.429
Vargem 10.000
Igaratá  9.397
Lavrinhas 7.102
Natividade da Serra6.770
Santo Antônio do Pinhal6.784
Silveiras6.193
Jambeiro 6.200
Lagoinha 4.949
Canas 4.914
Monteiro Lobato 4.509
São José do Barreiro4.183
Redenção da Serra3.919
Areias  3.869
Arapeí  2.516

Após nove meses, Senado decide nesta quarta destino de Dilma


Etapa final do julgamento de Dilma Rousseff no Senado

Encerrada a fase de debates, que durou quase dezessete horas, o Senado chega na manhã desta quarta-feira ao sétimo — e último dia — do julgamento que selará o destino da presidente afastada Dilma Rousseff (PT). O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, marcou o início da sessão de votação final para as 11 horas e a expectativa é que ela seja concluída até o início da tarde. Já se passaram mais de nove meses desde que o processo de impeachment foi instaurado no Congresso Nacional, em dezembro de 2015.

Segundo placar elaborado pelo jornal O Estado de S. Paulo, 55 senadores já se declararam favoráveis à condenação de Dilma, quórum suficiente para afastá-la definitivamente do cargo e torná-la inelegível por oito anos. Senadores do PT já anunciaram que, após a votação, irão recorrer ao STF para anular o processo. Durante a fase de debates, 48 senadores se manifestaram favoráveis ao impeachment, 18 contrários e 3 não declararam.

Ricardo Lewandowski, que comanda os trabalhos no Senado, deve começar a sessão de hoje, lendo um resumo sobre os argumentos apresentados pela acusação e defesa, e das provas levantadas ao longo do processo. Depois, quatro senadores (dois anti e dois pró-impeachment) farão explanações na tribuna por até cinco minutos cada. Eles estão impedidos de orientar votos.

Em seguida, para encaminhar a votação, Lewandowski fará a seguinte pergunta aos parlamentares: “Cometeu a presidente Dilma Rousseff os crimes de responsabilidade correspondentes à tomada de empréstimos junto a instituição financeira controlada pela União e à abertura de créditos sem autorização do Congresso Nacional e deve ser condenada à perda do seu cargo, ficando, em consequência, inabilitada para o exercício de qualquer função pública pelo prazo de oito anos?” Os senadores deverão responder “sim” ou “não” em votação aberta, nominal e via painel eletrônico.

Para Dilma ser cassada, o relatório pela condenação precisa receber 54 votos favoráveis entre os 81 senadores. Se não atingir esse número, ela reassume o a Presidência da República e o processo é arquivado. Se for condenada, fica proibida de disputar cargos públicos por oito anos a partir do fim de 2018, quando terminaria o seu mandato. Finalizada a votação, Lewandowski lerá a sentença, que será publicada na forma de resolução e comunicada para as partes envolvidas. Se for confirmado o impeachment, o presidente interino Michel Temer tomará posse do cargo em solenidade no Congresso Nacional ainda nesta quarta-feira.

A penúltima sessão do julgamento, que começou por volta das 10 horas e só acabou às 2 horas da madrugada, foi marcada por discursos emocionados tanto por parte dos acusadores quanto dos defensores de Dilma, com direito a choro explícito de Janaína Paschoal e José Eduardo Cardozo. Na tribuna, a jurista pediu desculpas à presidente por saber que o processo lhe causava “sofrimento”, mas explicou estava fazendo isso por seus netos. Sem conseguir controlar as lágrimas, Cardozo afirmou que a Janaína foi “injusta”: “Pedir a condenação para defender os seus netos é algo que me atingiu muito fortemente. Não é justo”, disse ele.

Na etapa seguinte, 63 senadores subiram à tribuna para discursar. O último a falar foi Romário (PSB-RJ), que se inscreveu na última hora. Ele fechou a sessão, dizendo que o impeachment de Dilma é um “desfecho inevitável” e que “não há dúvidas” de que houve crime de responsabilidade. Antes dele, o senador Cristovam Buarque (PPS-DF), ex-ministro de Lula, afirmou que o impeachment não era só de Dilma, mas de uma “esquerda velha e obsoleta”.

Em um discurso histórico, o senador Fernando Collor de Mello, que há 24 anos foi o primeiro presidente a sofrer um impeachment no período pós-ditadura militar, subiu à tribuna para dizer que o processo contra Dilma é “completamente diverso” ao que foi alvo em 1992, este sim classificado por ele como “golpe” e “trama”. “O governo afastado transformou sua gestão numa tragédia anunciada. É o desfecho típico de governo que faz da cegueira econômica o seu calvário, e da surdez política, o seu cadafalso”, disse Collor, que até pouco tempo era aliado do governo petista.

Recurso do PT ao STF é uma aberração e não dará em nada


Por Reinaldo Azevedo

A defesa da presidente Dilma Rousseff já se prepara para recorrer ao Supremo contra o impeachment. Há um coquetel de alegações. Uma se mostra mais furada do que a outra. Qual é a chance de o troço prosperar? Inferior a zero.

Sempre podem aparecer um ministro polêmico ou outro, mas uma coisa é certa: o Supremo, por maioria, não vai se meter nessa roubada. Até porque todos os argumentos do senhor José Eduardo Cardozo restaram vencidos em etapas anteriores. PT e PCdoB pediram, em vários momentos, a intervenção do Supremo.

Querem ver? Os petistas insistem ainda na motivação pessoal de Eduardo Cunha para ter recebido a denúncia. Vamos refrescar a memória dos companheiros: no rito estabelecido por Eduardo Cunha, originalmente, a ele caberia dizer um “sim” ou “não” inicial à denúncia. Os deputados poderiam recorrer, e o plenário decidiria.

O que fizeram os companheiros? Diziam que Cunha não teria coragem de dizer “sim”, que tudo não passava de uma tramoia: recusaria a denúncia para que o plenário a aceitasse. Não tiveram dúvida: recorreram ao Supremo e obtiveram duas liminares, referendadas pelo pleno — uma de Teori Zavascki e outra de Rosa Weber. E foi o Supremo quem bateu o martelo: A DECISÃO CABIA A CUNHA E SÓ A CUNHA. Ponto. E ele decidiu.

Tanto é assim que os partidários de Dilma apelaram de novo ao Supremo alegando que Cunha praticava “desvio de função”, uma vez que era notório adversário de Dilma. Teori recusou o argumento, deixou claro que isso corresponderia a entrar no mérito e lembrou que é próprio de políticos que se manifestem politicamente.

A resposta já incide no segundo argumento a que recorrerá a defesa da impichada: os senadores, na condição de juízes, não poderiam ter antecipado voto. Só pode ser uma piada grotesca. Impedir um político de se manifestar politicamente corresponde a agredir aquela que é a sua função essencial: representar a sociedade. Ou alguém pensaria em invalidar os votos dos petistas porque se oporão ao impedimento.

Finalmente, Cardozo vai tentar levar o mérito para o Supremo: Dilma não teria cometido crime de responsabilidade. Bem, digamos que haja controvérsia a respeito — estou entre os que acham que não —, não será o tribunal a resolver essa questão.

Mais: vão entrar com um mandado de segurança. O que Cardozo espera? Uma liminar que devolva Dilma provisoriamente ao poder, enquanto o Supremo espera para votar o mérito?

Sabem o que isso significa? Uma variante da litigância de má-fé. E explico por que digo isso: não disse a senhora ainda presidente afastada (até amanhã) que estamos diante de um golpe? Então se vai pedir ao Supremo que decida sobre um golpe?

O que quer o PT? Quando o tribunal disser “não” a seu pleito, então a Corte Maior será também golpista?

Isso é conversa mole. Já é papo para 2018.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Ela Wiecko renuncia ao cargo


Ela Wiecko, vice-procuradora-geral da República: a número dois de Rodrigo Janot participou de manifestação contra o que chama de “golpe”

Depois de aparecer em uma manifestação em que integra um grupo de apoiadores que condena o impeachment da presidente Dilma Rousseff e classifica o processo como “golpe”, a vice-procuradora-geral da República no Brasil, Ela Wiecko Volkmer de Castilho, renunciou ao cargo nesta terça-feira. Número dois do procurador-geral Rodrigo Janot, Wiecko foi filmada em uma gravação de 28 de junho em que aparece segurando uma faixa onde se lê “Fora Temer. Contra o golpe!”.

Vice de Janot participa de ato ‘contra o golpe’ e anti-Temer


Ela Wiecko, vice-procuradora-geral da República: a número dois de Rodrigo Janot participou de manifestação contra o que chama de “golpe”

VEJA.com traz reportagem de Rodrigo Rangel que contém um vídeo em que a vice-procuradora-geral da República no Brasil, Ela Wiecko Volkmer de Castilho, número dois de Rodrigo Janot, aparece em manifestação contra o impeachment. Na gravação feita em 28 de junho, Ela Wiecko aparece segurando uma faixa onde se lê “Fora Temer. Contra o golpe!” – de óculos escuros, aparentemente envergonhada, sem a empolgação dos demais, mas participando do ato.

Ela Wiecko assumiu a vice-procuradoria-geral da República em 2013. Foi escolhida para o posto pelo próprio Rodrigo Janot. Por mais de uma vez, ela integrou a lista tríplice de candidatos ao posto máximo do Ministério Público. Atualmente, Ela Wiecko conduz, na Procuradoria-Geral, a “Operação Acrônimo”, que tem entre os alvos o governador mineiro Fernando Pimentel, do PT.

A VEJA, Ela Wiecko disse não ver problemas em participar da manifestação. “Eu estava de férias, em um curso como estudante. Não posso pensar nada? Não posso ter liberdade de manifestação? Isso é um pouco exagerado. Fui discreta, estava junto, e não tive protagonismo maior”, afirmou. “(Isso) é um patrulhamento que impede a pessoa de ser o que ela é.” Perguntada sobre o que pensa acerca do processo de impeachment, agora em sua fase derradeira no Senado, ela respondeu: “Eu acho que, do ponto de vista político, é um golpe, é um golpe bem feito, dentro daquelas regras. Isso a gente vê todo dia, é parte da política”.

A vice-procuradora-geral disse ver com reservas a figura do presidente em exercício, Michel Temer. “Tem muita gente que pensa como eu dentro da instituição (Ministério Público Federal). Eu estou incomodada com essas coisas que estão acontecendo no Brasil. Não me agrada ter o Temer como presidente. Ele não está sendo delatado? Eu sei que está”, afirmou, antes de encerrar a conversa, por telefone.

Na mais longa sequência de improvisos em dilmês castiço, o grande ausente foi um intérprete


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Por Augusto Nunes

Dilma Rousseff até que fez bonito na prova de leitura de discurso: abstraídas três ou quatro derrapagens veniais (como o “Vicente” acrescentado ao prenome do presidente João Belchior Marques Goulart), recitou com cuidado e atenção o texto escrito por algum assessor alfabetizado. Como antecipou esta coluna, o desastre começou a desenhar-se na etapa seguinte, reservada ao duelo verbal entre a depoente e parlamentares favoráveis ao impeachment.

“Após discurso firme, Dilma volta a ser Dilma”, resumiu o título do post publicado pelo site de VEJA. “A presidente afastada voltou a fazer uso do ‘dilmês’ na fase de interrogatório”, constatou o texto. “A retórica confusa que sempre a caracterizou deu o tom das respostas aos senadores. Com frases emendadas umas nas outras e nem sempre respeitando a lógica, a presidente retomou o uso de metáforas e dos pleonasmos que consagraram o idioma próprio de Dilma”.

O zero com louvor em falatórios de improviso foi garantido com as respostas que deu às duas primeiras perguntas menos amistosas. A senadora Ana Amélia (PP-RS) quis saber o que Dilma queria dizer com a expressão “golpe parlamentar”. A interrogada pendurou-se numa imagem provavelmente nascida das trocas de ideias com a senadora ruralista e melhor amiga Kátia Abreu.

“A diferença consiste que no golpe militar é como se você tivesse uma árvore, que você derruba o governo e o regime democrático”, desandou o neurônio solitário. “O que tem acontecido no golpe parlamentar é que você tira um presidente eleito por razões que estão fragilizadas pelo fato de que não tem crime de responsabilidade que as sustentem. É como se essa árvore não fosse derrubada, mas atacada por forte e intenso ataque de fungos, por exemplo”.

Segundo da fila puxada por Ana Amélia, o senador Ricardo Ferraço (PSDB-ES) descobriu que, na cabeça baldia da presidente agonizante, a mentira comporta matizes até aqui ignorados pela ciência. “Considero que essa sua acusação é improcedente”, ensinou Dilma. “Acho que ela é aquela mentira que não tem base na realidade, ou seja, ela não expressa a verdade dos fatos”. Se existe aquela mentira sem relação com o mundo real, então também existe a mentira baseada em fatos.

O restante da sessão confirmou que, ao longo do depoimento reduzido a uma inutilidade tediosa, o grande ausente foi um intérprete. Faltou alguém que fizesse a tradução simultânea da mais longa sequência de improvisos em dilmês. Alguns senadores conseguiram decifrar a essência do falatório sem pé nem cabeça. Outros foram dormir sem saber o que a depoente estava tentando dizer para, como sempre, ocultar a verdade.

Lula, Boulos e Stedile compareceram ao funeral, mas o PT abandonou Dilma


Por Reinaldo Azevedo

Nem o PT compareceu ao ato final de Dilma. Alguns gatos-pingados em Brasília, outros tantos no Rio, mais uma turminha em São Paulo… E pronto! Esse é o país que se tornaria ingovernável, previam os Guilherme Boulos (MTST), João Pedro Stedile (MST) e Vagner Freitas (CUT) caso o Congresso Brasileiro ousasse exercer o seu papel. E, no entanto, Dilma deve se encontrar com o seu destino no fim da noite desta terça e começo da madrugada de quarta. E sabem o que vai acontecer? Nada! A vida continua.

As consequências positivas decorrentes da saída de governanta não se limitam a livrar o país de suas decisões nefastas, desastrosas. Elas se desdobram também no PT. O partido vive uma crise inédita. Desde a sua fundação, conhecia apenas o crescimento, mesmo nas derrotas eleitorais. Nas três vezes em que perdeu eleições presidenciais — 1989, 1994 e 1998 —, não perdeu. Na verdade, ganhou. Trata-se do trabalho de acúmulo de forças. Agora, o partido está se desmilinguindo. E isso é inédito. Deve ter o pior resultado em eleições municipais desde que se tornou uma legenda grande. Depois de vencer quatro eleições presidenciais, terá de apelar uma vez mais a Lula em 2018. O homem, diga-se, já está em campanha eleitoral.

É impressionante que Dilma não tenha conseguindo a solidariedade pra valer nem da legenda que a abrigou. Na sua carta, o partido é ignorado. Nas respostas que deu aos senadores, ficou evidente que falava apenas em seu próprio nome. Vamos ser claros? Os petistas nunca foram muito com a sua cara. Foi alguém que chegou à legenda por cima, importada do pedetismo, para cuidar da área energética do governo Lula, onde ganhou, de modo injusto, a fama de gestora competente e austera. Hoje, as áreas do Brasil que acumulam mais problemas são justamente petróleo e energia elétrica, as que estavam afeitas à sapiência divinal da governanta.

Como escrevi aqui várias vezes, Dilma sempre foi muito competente na arte de parecer competente. E sempre foi autoritária e autocrática o bastante para prestar atenção ao que os outros tinham a dizer. Até mesmo algumas sugestões de Lula, justiça se faça, ela se negou a ouvir. Fez tudo conforme lhe pareceu bom. E deu no que deu.

A gritaria que setores de esquerda mais radicalizados fazem não têm em Dilma seu referencial. O que os mobiliza é a tese vigarista, falsa, cretina, de que um governo “progressista” foi deposto por uma conspiração de direita. É a estupidez influente entre esquerdistas que se querem intelectualizados. Não deixa de ser divertido: afinal, se os “companheiros” empreiteiros quiserem, transformam Lula, Dilma e o PT num amontoado de escombros morais. Os ídolos da esquerda do Leblon, no Rio, e da Vila Madalena, em São Paulo, estavam literalmente no bolso dos empreiteiros. Não é engraçado?

Podem se preparar: assim que Dilma for apeada do poder e que o governo Temer começar para valer, a esquerdalha vai sair da toca. Tentará impedir as reformas a todo custo e inviabilizar qualquer mudança. Os partidos que dão suporte ao governo Temer no Congresso terão de se preparar. O PT não sabe o que fazer com a Previdência, por exemplo, a não ser aumentar o rombo. Mas vai pôr seus brucutus na rua para tentar manter tudo como está, o que nem Dilma faria se continuasse no poder.

Para onde vai a deposta? Não sei. Não parece haver espaço para ela no PT. É possível que se dedique por um bom tempo apenas à mitologia pessoal, brandindo por aí as chagas do golpe, até que se percam os fiapos de interesse que ainda desperta. A verdade insofismável é que ninguém quer saber de Dilma. Nem o seu partido.

Sua derrocada foi ainda mais espetacular e mais rápida do que a sua ascensão.

Não obstante, o que faziam lá Stedile, Boulos e Lula? Nada! Apenas compareciam ao funeral.

Deposição de Dilma aumentará sangria de Lula


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Por Josias de Souza

A história vive atrás de algo capaz de resumir uma época, seja a delação da Odebrecht ou a fatura do cartão de crédito internacional da mulher de Eduardo Cunha. Os brasileiros do futuro talvez escolham como um desses momentos marcantes a presença de Lula nas galerias do Senado como espectador do discurso de autodefesa de Dilma Rousseff no processo de impeachment.

Dirão que foi um momento histórico porque, assim como seu governo já tinha cronologicamente acabado em dezembro de 2010, só então, cinco anos e meio depois de Lula ter usado sua superpopularidade para içar um poste à poltrona de presidente da República, o mito foi mesmo enterrado.

Depois de passar à história como primeiro presidente a fazer a sucessora duas vezes, Lula se reposiciona diante da posteridade como um criador que foi desfeito pela criatura. Hoje, o impeachment é visto como um pesadelo do qual Dilma tenta acordar. No futuro, dirão que a deposição de Dilma foi uma trama de Lula contra si mesmo.

Seu estilo de governar manipulando opostos e firmando alianças tóxicas financiadas à base de mensalões e petrolões se revelaria uma rendição à oligarquia empresarial. A pseudo-esperteza de vender uma incapaz como supergerente produziu um conto do vigário no qual a maioria do eleitorado caiu.

Restou a imagem de um Lula que —convertido em réu por um juiz da primeira instância de Brasília e em indiciado pela Polícia Federal em Curitiba— vai às galerias do Senado na condição de detrito. Destituído de seus superpodres, apenas observa o derretimento de sua criatura, na luxuosa companhia de Chico Buarque, autoconvertido em inocente inútil. O ex-mito virou um personagem hemorrágico.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

William Bonner e Fátima Bernardes se separam após 26 anos


Fátima Bernardes e William Bonner durante o Jornal da Globo, em 1989

Os jornalistas Wiliam Bonner e Fátima Bernardes anunciaram na noite desta segunda-feira que estão se separando, após 26 anos de casamento. Em uma série de mensagens idênticas publicadas nos perfis de ambos no Twitter, eles afirmam que continuam “amigos, admiradores do trabalho um do outro e pais orgulhosos de três jovens incríveis”.

Rumores de que o casamento de Bonner e Fátima não ia bem circulam desde o começo do ano, mas o âncora do Jornal Nacional e a apresentadora do Encontro nunca comentaram o assunto. Os dois têm três filhos juntos, os trigêmeos Vinícius, Laura e Beatriz, de 18 anos.

Os jornalistas William Bonner e Fátima BernardesO casal de jornalistas dividiu a bancada do Jornal Nacional até dezembro de 2011, quando Fátima saiu do jornalístico para migrar para o entretenimento da Globo. Em junho do ano seguinte, Fátima estreou o Encontro, programa matinal da emissora. Bonner e Fátima trabalharam juntos no JN por treze anos.

DILMA ROUSSEFF FAZ SUA DEFESA NO PLENÁRIO DO SENADO NESTA SEGUNDA-FEIRA



A presidente afastada Dilma Rousseff vai hoje (29) ao Senado se defender das acusações de ter cometido crime de responsabilidade em 2015. Ela responde ao processo de impeachment, sob a alegação de ter editado em 2015 decretos de crédito suplementar sem autorização do Congresso e também de usar dinheiro de bancos federais em programas do Tesouro [as chamadas pedaladas fiscais]. A petista foi afastada da presidência da República pelo Senado há mais de 100 dias.

Na última semana, o Senado ouviu os depoimentos das testemunhas de defesa e de acusação na quinta (25), sexta (26) e sábado (27). Dilma começa a falar às 9h. Inicialmente, terá 30 minutos para a apresentação, mas esse tempo poderá ser prorrogado por mais 30 minutos. A critério do presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, que comanda o julgamento do impeachment, a presidente afastada poderá ter mais tempo na fase inicial.

Depois da fala de Dilma, terão início os questionamentos dos senadores. Cada parlamentar terá até cinco minutos para fazer perguntas. O tempo de resposta de Dilma é livre e não será permitida réplica e tréplica. Dilma também poderá deixar de responder às indagações dos parlamentares. Mais da metade dos 81 senadores já se inscreveram para questionar Dilma Rousseff.

O depoimento de Dilma será acompanhado no plenário por cerca de 30 convidados dela. Entre eles estão o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o presidente do PT, Rui Falcão, do PDT, Carlos Lupi, vários ex-ministros do governo, além de assessores e outras pessoas próximas. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), colocou à disposição da acusação de Dilma o mesmo número de cadeiras que disponibilizou para a petista.

A expectativa é de que a o depoimento dure todo o dia e se estenda até parte da noite. Os senadores que apoiam o impeachment garantem que não haverá enfrentamentos, mas que irão fazer todos os questionamentos. Eles entendem que o comparecimento da presidenta afastada ao plenário não mudará os votos dos senadores.

Os parlamentares contrários ao impeachment, no entanto, acreditam que a fala dela vai mudar votos. O senador Lindberg Farias (PT-RJ) disse que os aliados de Dilma estão depositando todas as esperanças no depoimento. “Acho que vai ser um dia em que o Brasil vai parar. Acho que a presidente pode mostrar ao país que está sendo vítima de uma injustiça e que não há crime de responsabilidade. Acho que é um dia que pode virar o jogo”, afirmou. (ABr)

LAVA JATO REVELA MAIS UM APARTAMENTO EM NOME DE LULA, DIZ REVISTA



A Polícia Federal indicia o ex-presidente e dona Marisa por corrupção, lavagem de dinheiro e falsididade ideológica no caso do tríplex no Guarujá. Mas as investigações continuam e documentos da Lava Jato mostram a existência de outro imóvel da Bancoop em nome do casal

No caso da presidente afastada Dilma Rousseff, segundo a revista, a OAS teria firmado contrato fictício com a agência de comunicação Pepper. O contrato teria como finalidade pagar dividas da campanha da petista. A solicitação para o pagamento teria sido feita pelo tesoureiro da campanha e ministro de Dilma, Edinho Silva (PT)).

Tucanos. Além dos petistas, segundo a Veja, a delação de Léo Pinheiro atingia dois caciques tucanos: o senador Aécio Neves e o atual ministro das Relações Exteriores, José Serra. De acordo com a revista, contrato assinado em 2007 entre o governo do Estado de São Paulo, na gestão Serra, e a OAS para construção do trecho Sul do Rodoanel, resultou no pagamento de propina por meio de empresas de fachada do operador Adir Assad. Algumas entregas teriam sido feitas em dinheiro vivo.

Na sexta-feira 26, a Polícia Federal indiciou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a ex-primeira-dama Marisa Letícia pelos crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica no caso do tríplex. Eles estão mais próximos de se tornarem réus na Justiça. E, em breve, devem enfrentar outro problema. Ao aprofundarem as investigações contra o casal, a força-tarefa da Operação Lava Jato e o Ministério Público de São Paulo se depararam com novas suspeitas. Arquivos apreendidos em um disco rígido na sede da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop), obtidos por ISTOÉ, trazem à tona novos segredos do clã Lula. Ao contrário do que se imaginava, eles possuem dois e não apenas um imóvel construído pela entidade. Até agora, promotores e procuradores sabiam apenas que a ex-primeira-dama Marisa Letícia era dona do apartamento no Guarujá. Surpreenderam-se com o relatório de clientes da Bancoop, de 13 de janeiro de 2015, que mostra a existência do outro imóvel. Desta vez, em nome do ex-presidente Lula. Ou seja, na prática o casal tem dois imóveis da Bancoop. Na relação, o petista aparece ligado ao número de matricula 7.334 e o endereço residencial indicado no cadastro é diferente do informado pela ex-primeira-dama. Trata-se da rua Pouso Alegre, na capital paulista. É lá que fica o instituto que leva o nome do ex-presidente.

As investigações sobre o imóvel do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva são tratadas reservadamente por procuradores da força-tarefa da Lava Jato e por promotores paulistas. Pela ordem da numeração da matrícula “7.334”, eles desconfiam que o ex-presidente tenha se associado no primeiro semestre de 1998, anos antes da ex-primeira-dama Marisa Letícia. Agora, com base no relatório da busca e apreensão na sede da entidade, os investigadores pretendem ir atrás de novas provas sobre o misterioso apartamento. Querem saber a qual dos empreendimentos da cooperativa, ligada ao PT, a matrícula em nome do ex-presidente está atrelada. Esclarecer se Lula declarou a propriedade e se teria ou não pago as parcelas. Procurado, o Instituto Lula não comentou os questionamentos sobre a matrícula em nome do ex-presidente. Autoridades desconfiam que o petista pode ter sido privilegiado pela Bancoop. Depoimentos e documentos em poder do Ministério Público atestam que Lula e aliados receberam um tratamento vip da cooperativa e da OAS. Em 2009, a Bancoop lesou sete mil famílias e transferiu empreendimentos para a empreiteira envolvida no Petrolão. Entre eles, o prédio do tríplex reformado pela OAS para atender às exigências da ex-primeira-dama Marisa Letícia.

Operação alcateia

As suspeitas sobre o novo imóvel do ex-presidente integram a operação Alcatéia do Ministério Público de São Paulo. A investigação é um desdobramento do caso em que Lula chegou a ter a prisão pedida pela ocultação do tríplex. O nome foi escolhido pelos promotores pela semelhança entre a cadeia hierárquica existente entre os investigados e a adotada pelos lobos. Nos dois casos, existe um líder central que indica o papel e garante a sobrevivência do resto do bando. Para o MP, o comandante é o ex-presidente Lula. Pessoas ligadas a ele, segundo as apurações, teriam recebido apartamentos da Bancoop sem desembolsar um centavo. Uma delas seria Rosemary Noronha, amiga e ex-secretária de Lula. Procurada pelo MP, ela não conseguiu comprovar o pagamento de um duplex de 150 metros quadrados com piscina exclusiva, na capital paulista. O imóvel, avaliado em R$ 1,5 milhão, foi transferido para a filha Mirelle, que também não apresentou comprovantes de pagamento. À ISTOÉ, Rosemary Noronha disse que não recebeu “nenhum apartamento” e que forneceu “documentação que comprova a quitação.” Segundo as autoridades, ela realmente apresentou. Mas de outro apartamento que adquiriu junto à cooperativa dos bancários.

O presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas, é outro suspeito. Ele também não conseguiu demonstrar aos promotores ter pago à Bancoop por um apartamento registrado em seu nome no condomínio Altos do Butantã. Deu apenas uma explicação estranha de que comprou a unidade na capital paulista com a da soma de valores de cotas de outros dois apartamentos. Vagner, no entanto, não apresentou sequer um boleto ou comprovante bancário. Uma situação parecida com a da entidade dirigida por ele. A CUT foi incapaz de demonstrar ao Ministério Público como adquiriu quatro unidades. Duas delas têm três quartos e estão avaliadas em aproximadamente R$ 400 mil cada.


DOCUMENTOS APREENDIDOS PELA PF NA BANCOOP MOSTRAM DUAS MATRÍCULAS VINCULADAS À FAMÍLIA LULA. A PRIMEIRA, EM NOME DA PRIMEIRA-DAMA MARISA LETÍCIA, JÁ ERA CONHECIDA. A OUTRA REGISTRADA NO NOME DO EX-PRESIDENTE SURPREENDEU AS AUTORIDADES


O caso tríplex

Após decisão da Justiça paulista, ficaram concentradas com a força-tarefa da Operação Lava Jato as investigações sobre a ocultação do tríplex no Guarujá pela família do ex-presidente Lula. Uma leva de documentos reforça que os familiares do ex-presidente eram, sim, os verdadeiros donos do imóvel. Em um depoimento, obtido com exclusividade em março por ISTOÉ, o corretor Temoteo Mariano narrou como o Mar Cantábrico – renomeado Solaris – foi alterado pela Bancoop para se ajustar às exigências de Lula e da ex-primeira-dama. Responsável pela compra do terreno onde foram erguidas as duas torres do empreendimento, Temoteo contou ter sido “o primeiro a comprar um imóvel naquele empreendimento”. Adquiriu um apartamento de frente para o mar no 10º andar da torre hoje chamada Salinas. Mas desfez o negócio após a Bancoop modificar a localização dos quatro apartamentos de cada pavimento para beneficiar o líder petista. “Desde o início do empreendimento Mar Cantábrico já havia a prévia solicitação do ex-presidente por uma cobertura. Ocorre que as unidades defronte para a praia estavam vendidas.”, diz. Com a ajuda de Ricardo Berzoini, foi modificada “a numeração dos apartamentos constantes do projeto original, ou seja, quem comprou as unidades finais 1 e 2 passou a ter a vista traseira e quem comprou as unidades finais 3 e 4, passou a ter a vista frontal para a praia.” O tríplex que pertenceria a Lula é o 164A.

Outro documento apreendido pela PF vincula ainda mais a família Lula ao tríplex. Trata-se de uma proposta de adesão firmada pela ex-primeira-dama Marisa Letícia com a cooperativa dos bancários, em abril de 2005, para aquisição de uma unidade no empreendimento no Guarujá. O documento está visivelmente rasurado. Em primeiro plano, lê-se 141 como o apartamento em que a família Lula investiu. Só que é possível ver que a inserção do número ocorreu em cima de outro: o 174. Era esta a identificação da cobertura que a família Lula nega ser dona. O apartamento foi renumerado depois para 164 por mudanças na planta. Há ainda outro rabisco no papel que tenta esconder a palavra tríplex. Tão misterioso quanto o apartamento do Guarujá é o novo imóvel de Lula.