Finalmente descortinou-se ao menos uma razão de ser para o Ministério da
Pesca: servir de ponte para o trânsito do dinheiro público aos cofres de um
partido. No caso, o PT que, diga-se, não é o único a se valer do expediente.
A mesma prática revelou-se em episódios anteriores e voltou a aparecer nas
denúncias que levaram ministros à queda ou à berlinda ao modo de uma derrocada
em dominó.
Havia nos escândalos recentes envolvendo ministros do PC do B, PDT, PMDB, PR
e PSB, o traço - em alguns mais acentuadamente que em outros - do uso da máquina
administrativa para algum tipo de favorecimento privado. Partidário ou familiar
e, portanto, pessoal.
A denúncia sobre o ministério da Pesca é tão cristalina quanto as que durante
o ano passado detectaram a transformação de pastas em feudos de partidos
usuários do aparelho (nos dois sentidos) de Estado como fonte de
financiamento.
A diferença aqui é que quando se trata do PT o tratamento é mais brando do
lado do governo e mais petulante, para não dizer cínico, da parte dos acusados
em sua infinita capacidade de negar as evidências. Por mais evidentes que
sejam.
Vejamos resumidamente o que nos mostra o "caso das lanchas", a partir de
minuciosos relatos dos repórteres do Estado: em 2009, o Ministério da Pesca
concluiu uma negociação com a empresa Intech Boating para a compra de 28
lanchas-patrulha no valor de R$ 31 milhões.
A transação deu-se sem necessidade de comprovação da necessidade da aquisição
- tanto que a maior parte (19) não foi usada - e acabou caindo na rede do
Tribunal de Contas da União sobre licitações supostamente dirigidas.
Em 2010, o secretário de Planejamento do ministério, Karim Bacha, pediu uma
doação para a campanha do PT ao governo de Santa Catarina de R$ 150 mil ao dono
da empresa fabricante das lanchas. Pedido feito, pedido obviamente aceito por
aquele que ganhara um contrato cujo valor, na comparação, tornava a doação
irrisória.
Pois a questão aqui não é de montante, nem do fato de os recursos terem sido
devidamente contabilizados. A contribuição foi legal, como alega a hoje ministra
das Relações Institucionais e à época candidata ao governo de Santa Catarina,
Ideli Salvatti, e depois titular da Pesca.
Ilegítima - para dizer bem pouco, já que o direcionamento da licitação é
ainda uma suspeita - foi a "troca" perfeitamente caracterizada na solicitação
feita por intermédio do ministério.
Aqui não está em jogo só a conduta dos ministros (Ideli e seu antecessor
Altemir Gregolim), embora esteja também.
O dado mais relevante é a prática que se repete, se estende aos outros
partidos participantes do governo e é responsável pela produção de denúncias
numa série, pelo visto, interminável.
Um comentário:
Poderíamos usar estas lanchas, colocar nelas pouca gasolina e por estes políticos dentro dela e mandá-los mar a fora e, acabando a gasolina não aceitar qualquer S.O.S.
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